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Famosos como Frota e Gretchen mudaram o pornô brasileiro e seguem entre mais vistos

Saiba como a indústria do pornô se desenvolveu no Brasil


Por Folhapress Publicado 30/07/2019
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O ano era 2004. O ator Alexandre Frota, que já estampara a capa da revista G Magazine, procurou a produtora de filmes pornôs Brasileirinhas com uma oferta inusitada: queria estrelar sua própria obra de sexo explícito. Começava ali a era de ouro do cinema pornô nacional, que ganhou mais tarde o reforço de personalidades como Gretchen e Rita Cadillac.
“A indústria pornô é dividida entre a época antes e depois das celebridades. Antes, fazer um filme de sexo era uma coisa muito marginal, você nem falava para sua família que trabalhava com isso. As celebridades tiraram muito do tabu. Agora, não é mais um problema dizer que faz pornô”, afirma Clayton Nunes, presidente-executivo da Brasileirinhas.

A produtora foi responsável pela maioria dos filmes de celebridades na primeira década dos anos 2000. Além de Frota, 55, Gretchen, 60, e Rita Cadillac, 65, que formaram uma espécie de primeiro escalão dos atores pornôs, a Brasileirinhas divulgou produções com os atores Mateus Carrieri, 52, Regininha Poltergeist, 48, e Leila Lopes (1959-2009).
O primeiro filme dessa leva foi a obra de Frota “Obsessão”, lançada ainda em 2004. Vendeu na época em torno de 20 mil cópias. Ao longo dos anos seguintes, o ator estrelou outras 13 produções da Brasileirinhas, nem todas chegaram a ser grandes sucessos.
“A atração gerada no público de pornô por protagonistas homens é menor. Então o primeiro filme vende muito, já os próximos se igualam a um pornô convencional”, explica Nunes.
No caso do Frota, o desempenho de seus filmes foi “de picos”. Para ampliar o interesse nas obras, a Brasileirinhas investiu na diversificação das parceiras de cena do ator, como o filme “Puro desejo” que gravou em 2008 ao lado de Rita Cadillac (e que ganhou o título de o encontro mais esperado de todos os tempos).
Ou “Garoto de Programa”, que protagonizou ao lado da travesti Bianca Soares, em 2006, e é hoje o filme de Frota mais procurado no site da Brasileirinhas, acumulando quase 647 mil visualizações no site nos últimos três anos, segundo dados da empresa.
O próprio Frota já declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2011 que ganhou R$ 100 mil por cada filme com cenas gravadas com mulheres e R$ 120 mil para transar com a travesti Bianca.
Segundo Nunes, da produtora, Frota foi responsável não apenas por desbravar a indústria pornográfica, mas por trazer as amigas Gretchen, Rita Cadillac e a ex-Malandrinha Vivi Fernandez para a Brasileirinhas.
O executivo garante que nunca precisou procurar por celebridades, eram sempre elas que batiam na porta da produtora. “O que aconteceu foi que teve muita gente que com quem conversamos, fizemos uma proposta, mas foi rejeitada”, conta Nunes, que não revela nomes.
Gravar com as celebridades, segundo ele, não foi difícil. Nenhum fez demandas fora do esperado. Frota já afirmou ter exigido não ter nenhum contato com o pênis da colega de cena travesti; Rita quis que todos os atores usassem camisinhas; e Gretchen só contracenou com seu então marido, o ex-guitarrista da Bandamel Gutto Guitar.
Apesar do profissionalismo em cena, a inexperiência no setor transpareceu, em especial nas primeiras produções. O público fixo da produtora reclamava das atuações dos famosos, principalmente que as celebridades não mostravam os ângulos certos para as câmeras.
“Ouvíamos muito que o Frota não mostrava a bunda, que eles queriam ver. Mas ele fez muitos filmes e foi melhorando ao longo do tempo”, conta Nunes.
Ajudava o fato da maioria dos filmes ser dividida com atores veteranos do selo, que auxiliavam os colegas novatos. “Não tentávamos dirigir tanto a cena como fazíamos em um filme convencional, era uma proposta diferente”, resume o produtor.
Para os artistas, a experiência não foi tão tranquila. A ex-Chacrete Rita Cadillac já afirmou que gravou as cenas de sexo bêbada e que só topou pelo cachê. Ela declarou ter recebido R$ 500 mil pelo primeiro deles, “Sedução”, de 2004, e que usou o dinheiro das produções pornôs para comprar uma casa e ajudar o filho. Está ainda em outras sete capas das Brasileirinhas.

Assim como Frota, a atuação de Rita é admirada até hoje. Seu maior sucesso nos dias de hoje é “A Primeira Vez de Rita Cadillac” (2006), em que transa com uma mulher, com pouco mais de 316 mil visualizações no site da Brasileirinhas nos últimos três anos. Já “Puro Desejo” acumula 207 mil cliques no mesmo período; e seu primeiro, “Sedução”, registra 225 mil espectadores.
Embora fale eventualmente sobre essa parte de seu currículo em entrevistas à TV, recusou o pedido de entrevista feito pelo F5 alegando que “prefere não ficar falando sobre isso”.

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Frota, hoje deputado federal pelo PSL e articulador do governo na reforma da Previdência, também não quis falar com a reportagem sobre a passagem pela Brasileirinhas. E assim como as colegas, já deu declarações no passado de que se arrependeu de estrelar as cenas de sexo, fez apenas pelo dinheiro e não toparia outro roteiro do tipo.
A cantora Gretchen já disse que fazer os filmes pornôs foi seu maior arrependimento. Hoje, o assunto é proibido nas entrevistas com a artista, que estreou recentemente como Gina, na novela das nove da Globo, “A Dona do Pedaço”.
A atriz contracenou com Guitar em dois filmes do selo: “La Conga Sex” (2006) e “A Rainha do Bumbum” (2008). Em troca, recebeu R$ 1,5 milhão, segundo ela própria afirmou no livro de 2016 “Gretchen, uma biografia quase não autorizada” (Ed. Ilelis, 238 págs., R$ 14). Usou o dinheiro para comprar uma casa em Recife e ajudar a família.

“La Conga Sex” foi o grande ícone dessa era de glória da indústria pornô. Vendeu, segundo a Brasileirinhas, 120 mil DVDs, um recorde da produtora, e segue como um dos filmes mais vistos no site do selo, com 478.440 visualizações nos últimos três anos.
Gretchen é ainda o terceiro termo mais buscado no site das Brasileirinhas, atrás de “famosas” e “coroas”. A lista inclui ainda Rita Cadillac, em 11º, e Alexandre Frota, em 18º.

Nunes diz não saber ao certo o motivo por trás desse interesse perene de sua clientela nos artistas e diz apostar na simples curiosidade. “Houve alguns picos [de audiência] no período em que eles estiveram na ‘Fazenda’, mas eles não deixam o topo dos filmes mais vistos. São personalidades que estão na mídia o tempo todo, pessoas que não foram esquecidas.”
O período de bonança durou até 2008, quando foram divulgados os últimos filmes desse primeiro escalão de celebridades. “Os DVDs começaram a perder força no mercado, e, na internet, a pirataria avançava, prejudicando muito nosso trabalho”, conta o executivo.
Hoje, ter até mesmo uma subcelebridade estampando uma produção de sexo explícito é impraticável, pelo mesmo motivo que fez a Playboy sair das bancas. Os filmes, assim como a icônica revista, não rendem mais o suficiente para bancar os cachês astronômicos.

“É um negócio que não volta mais ao que foi. Nós faturávamos na casa dos sete dígitos com os filmes das celebridades, então podíamos pagar valores de seis dígitos para os atores. Eu tinha uma verba absurda. Hoje, se eu colocar uma celebridade em um filme, vou ganhar no máximo uns mil assinantes”, compara Nunes, cujo site Brasileirinhas tem assinatura mensal vendida a R$ 29,90.
O diretor do Grupo Playboy do Brasil, dono do selo Sexy Hot, Maurício Paletta, faz análise semelhante. “Não existem mais os cachês estrondosos de antes.”
Hoje, o orçamento para toda a produção de um filme das Brasileirinhas fica entre R$ 20 mil e R$ 25 mil. Uma atriz recebe cerca de R$ 3.000 por semana para entrar para o reality show da produtora, Casa das Brasileirinhas, em que mostra seu dia a dia e grava, com transmissão ao vivo, o filme. Já o ator recebe cerca de R$ 500 por duas horas de gravação.

Isso não significa que não há interesse de estrelas novatas. “Às vezes liga o empresário de um ex-BBB ou um ex-Fazenda perguntando quanto pagamos por um filme, dizendo que seu cliente está em busca de oportunidades. Mas eles sempre vêm com uma expectativa muito alta”, afirma Nunes.

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