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Livro ‘Medo Imortal’ resgata ficção de horror escrita por autores brasileiros clássicos

O livro reúne 35 ficções curtas do gênero, escritas entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20


Por Folhapress Publicado 25/10/2019
Divulgação

A literatura brasileira de terror tem tintas ainda desconhecidas do público. A coletânea “Medo Imortal” (editora Darkside, 464 págs., R$ 59,90), lançada neste ano, quer mostrar a cara e a qualidade das histórias macabras produzidas por alguns dos escritores mais importantes do país.

O livro reúne 35 ficções curtas do gênero, escritas entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20.
A inscrição na capa da obra, “Academia Sobrenatural Brasileira de Letras”, indica de onde vêm os autores. Dos 13 escritores selecionados, 12 são imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Estão no grupo nomes como Machado de Assis, com contos como “A Igreja do Diabo” e “A Vida Eterna”, história que chegou a dividir espaço com dicas de corte e costura no Jornal das Famílias, em 1870, e Álvares de Azevedo, com as narrativas de “Noite na Taverna”.

Um dos pontos altos da obra é a inclusão da carioca Júlia Lopes de Almeida (1862-1931) na seleção. A escritora, que foi mulher do escritor luso-brasileiro e acadêmico da ABL Filinto de Almeida, teve uma produção vasta, com contos, crônicas romances, peças de teatro, e foi ainda pioneira na literatura infantil brasileira.

Embora tenha atuado na criação da ABL, Júlia acabou ficando sem uma cadeira na instituição por ser mulher. Mesmo indicada por colegas, no seu lugar sentou-se o marido. “A coletânea foi feita para fortalecer a imagem da Júlia também, que deveria estar naturalmente nesse cânone, mas que foi esquecida por uma convenção da época. O livro foi uma maneira de canalizar meu espanto com a obra dela”, diz o jornalista Romeu Martins, organizador de “Medo Imortal”.

Não raro a situação da mulher na sociedade que a autora vivia está retratada com crueldade nos seus escritos, e vemos isso de maneira mais clara nos contos “As Rosas” e “Os Porcos”, ambos escritos em 1903. Nas histórias, mulheres rejeitadas por seus homens são colocadas à margem, desamparadas até por familiares. Sozinhas e sem recursos para combater as adversidades, são condenadas a destinos atrozes.

Martins diz que a ideia para a coletânea surgiu de uma empreitada nas redes sociais, em 2017. Na época, o jornalista começou a publicar em sua página pessoal alguns contos que estão em domínio público com um breve perfil dos autores. A popularidade das publicações indicou que havia interesse e público leitor, o que levou Martins a formatar um livro nos mesmos moldes.
O trabalho de pesquisa de Martins ajudou a ampliar os perfis, que agora abrem a seção de cada escritor no livro, com um panorama da obra de cada autor que contextualiza a produção de terror de cada um.

“Fui atrás do que gerava mais desconforto. Procurei pelos contos que me mais incomodavam, que fossem mais sobrecarregados do elemento sobrenatural. Eu quis desmistificar a ideia de que a literatura brasileira é ligada apenas ao real”, diz o organizador da obra.

Mas nem sempre as perturbações causadas pela leitura são causadas pelo sobrenatural. Em “Pai Contra Mãe”, de Machado de Assis, vemos exposta a crueldade da escravidão no Brasil, na história de uma escrava grávida que foge de seu senhor. O terror racial explorado por Machado no conto chega a se aproximar do que o cineasta americano Jordan Peele fez em seus filmes “Corra!” (2017) e “Nós” (2019).

Para Martins, o livro mostra às novas gerações que autores do passado têm muito a ensinar na arte da literatura fantástica e de terror, que tem crescido no Brasil atualmente. “Hoje, temos escritores que conseguem publicar apenas fantasia ou terror. Mas os escritores que estão no ‘Medo Imortal’ escreviam vários outros gêneros, era inviável ficar dentro do nicho, afirma.
“Se compararmos com Estados Unidos ou Inglaterra, o volume de produção desse tipo de literatura no Brasil ainda é muito inferior, mas para os padrões da literatura nacional, os autores de ficção fantástica estão praticamente voando atualmente”, completa.

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