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‘Não queremos negociar nada’, diz Bolsonaro em ato pró-intervenção militar

"Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais que direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês", afirmou Bolsonaro


Por Folhapress Publicado 19/04/2020
BRASÍLIA, DF, 19.04.2020 – O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores que participavam de uma carreata em apoio a ele e contra as medidas de isolamento recomendadas por governos estaduais para tentar conter a pandemia do coronavírus. Algumas centenas de pessoas, várias portando faixas contra o congresso e pedindo intervenção militar, se aglomeraram para ver e ouvir o presidente em frente ao QG (quartel General) do Exército, em Brasília (DF), neste domingo. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Em cima da caçamba de uma caminhonete, diante do quartel-general do Exército e se dirigindo a uma aglomeração de pessoas pró-intervenção militar no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou neste domingo (19) que “acabou a época da patifaria” e gritou palavras de ordem como “agora é o povo no poder” e “não queremos negociar nada“.


“Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil”, declarou o presidente, que participou pelo segundo dia seguido de manifestação em Brasília, provocando aglomerações em meio à pandemia do coronavírus. “Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos.”


“Todos têm que ser patriotas, acreditar e fazer sua parte para colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais que direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês”, afirmou Bolsonaro, que tossiu e levou a mão à boca ao final do discurso.


“O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente”, afirmou Bolsonaro. “Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro.”


A escalada do tom de Bolsonaro ocorre em um momento de isolamento político do presidente. Reportagem da Folha de S.Paulo deste sábado mostrou que os adversários de Bolsonaro, e hoje ele os tem em todas as esferas de poder, desistiram de uma acomodação com o presidente.


A avaliação prevalente, ouvida pela reportagem nas cúpulas do Legislativo, do Judiciário e em estados, é a de um paradoxo: a fraqueza política de Bolsonaro só tende a acirrar sua agressividade no embate, o que ocorreu neste final de semana em Brasília.


No sábado, na rampa do Planalto diante da Praça dos Três Poderes, Bolsonaro afirmou que a política de enfrentamento ao novo coronavírus “mudou um pouco” desde a sexta (17) – quando houve a troca de Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich no Ministério da Saúde – e voltou a se queixar de prefeitos e governadores por adotarem medidas de isolamento social.


Bolsonaro também responsabilizou o STF (Supremo Tribunal Federal) por determinar que os demais entes federados têm poder para ordenar o fechamento de comércios. Neste momento do vídeo em que falou aos seguidores, Bolsonaro apontou o dedo para a sede do Supremo, do outro lado da praça.


Só na semana passada, o presidente criticou o Supremo Tribunal Federal, sugeriu que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, conspirava para derrubá-lo e ainda agudizou a crise do coronavírus ao demitir seu ministro da Saúde.


O presidente nega a gravidade da pandemia e promove passeios e aglomerações em Brasília, ao contrário do que recomenda a OMS. Bolsonaro demitiu seu então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por discordar de seu posicionamento técnico sobre a pandemia.


Além da gestão Bolsonaro, outros governos que ignoram a seriedade da doença são Turcomenistão, Nicarágua e Belarus.​


Como mostrou a Folha de S.Paulo neste domingo, Bolsonaro tem intensificado estratégia de blindagem política para tentar evitar que os efeitos da pandemia sejam usados contra ele na disputa eleitoral de 2022.


O plano consiste, neste primeiro momento, na defesa pública de que o coronavírus se trata de uma adversidade pequena, que não justifica medidas restritivas que podem aumentar o desemprego no país.


A ideia é que, ao se antecipar agora sobre os impactos econômicos que são praticamente inevitáveis, o presidente explore, na corrida eleitoral, a retórica de que a sua postura era desde o início a mais acertada, mesmo que contrariando as recomendações das autoridades de saúde.


Neste domingo, além de Brasília, há manifestações em curso em diferentes pontos do país, como Salvador, São Paulo e Manaus. Além de ataques ao Supremo e ao Congresso e de pedidos pela volta do regime militar, os manifestantes pedem a volta ao trabalho e a abertura do comércio.


Há discursos em defesa do isolamento vertical, quando só os grupos de risco ficam em isolamento. Em Brasília, no ato que teve a participação de Bolsonaro, a volta à normalidade e a reabertura do comércio também estavam na pauta dos manifestantes.


No quartel-general do Exército, o grupo era formado por algumas centenas de pessoas, muitos com faixas pedindo um novo AI-5 e intervenção militar. Ao verem Bolsonaro chegar, os manifestantes se aglomeraram para ouvir o presidente.


Além de defender o governo e clamar por um novo AI-5 -o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), que abriu caminho para o recrudescimento da repressão- os manifestantes aglomerados em frente ao quartel-general defenderam o fechamento do STF e miraram no presidente da Câmara, Rodrigo Maia .


As carreatas pelo país com apoio de Bolsonaro neste domingo ocorrem no momento em que o número de mortes pelo coronavírus chegou a 2.347 no Brasil. Em 24 horas, foram registrados 206 óbitos pela doença. Os dados foram divulgados neste sábado pelo Ministério da Saúde. Ao todo, são 36.599 casos confirmados.


De acordo com o balanço, o índice de letalidade do novo vírus, em relação ao total de casos, está em 6,4%. No dia anterior eram 33.682 casos e 2.141 mortes.
O ministério, porém, afirma que a tendência é que o número real de casos seja maior, já que apenas pacientes internados em hospitais fazem testes e há casos que ainda esperam confirmação. Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que equipes de atenção básica em várias cidades e estados afirmam que tem havido subnotificação.


As carreatas pelo fim do isolamento ocorrem no momento em que apoio à quarentena como forma de evitar a disseminação do novo coronavírus sofreu uma queda nas duas últimas semanas, mas ainda é majoritária entre os brasileiros.


Segundo o Datafolha, são 68% aqueles que dizem acreditar que ficar em casa para conter o vírus é mais importante, ainda que isso prejudique a economia e gere desemprego.


No levantamento anterior do instituto, feito de 1º a 3 de abril, eram 76%. A pesquisa atual ouviu 1.606 pessoas na sexta (17) e tem margem de erro de três pontos percentuais

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