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Denunciado por estupro, ‘guru do tantra’ responde por crimes ambientais e trabalhistas

Deva Nishok – codinome de Tadeu Horta  – foi acusado de abuso sexual mediante fraude e assédio sexual


Por Redação Educadora Publicado 27/05/2019

O guru da meditação e pioneiro do tantra como técnica terapêutica no Brasil, Deva Nishok – codinome de Tadeu Horta  –, já foi acusado de abuso sexual mediante fraude e assédio sexual. Casos foram apurados pelos ministérios públicos de Minas Gerais e de São Paulo. Agora, aos 61 anos, ele é alvo de novas denúncias. A Polícia Civil mineira lavrou boletim de ocorrência contra o terapeuta e coach por crimes ambientais. Além disso, é réu na Justiça Trabalhista, acusado de maus-tratos e assédio moral por ex-funcionários e voluntários.

A Polícia Militar mineira constatou que houve um desmatamento ilegal em área de preservação ambiental em Itapeva (MG). Deva é acusado de ter feito uma terraplanagem com retirada de árvores nativas e uso de madeira para lenha, além de perfurar um poço artesiano irregular para abastecer seu centro terapêutico e pousada Communa Metamorfose, no município mineiro.

Embora a PM tenha constatado as infrações, o guru se recusou a assinar o boletim de ocorrência registrado em delegacia. Assim, o processo foi encaminhado ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão ambiental responsável por casos assim.

“Tanto o poço artesiano quanto a área de terraplanagem foram feitos pelo antigo proprietário. Já comprei o imóvel do jeito que está, não tem nada de ilegal nisso”, afirmou.

Na mira da Justiça do Trabalho
Os problemas do “mestre” das técnicas de sexo tântrico não param por aí. Ele é réu em processo trabalhista que corre, em segredo de Justiça, na segunda instância judicial. A acusação é de maus-tratos contra ex-funcionários e voluntários do centro terapêutico em Itapeva.

Segundo Paulo Kroeff, gestor do empreendimento entre janeiro de 2017 e abril de 2018, além de manter mais voluntários do que contratados na manutenção do estabelecimento e, por isso, ter sido acionado na Justiça do Trabalho, Deva Nishok costuma tratar mal os subordinados.

“Ele tem uma abordagem muito incisiva, dura, com as pessoas, justificando isso como se fosse terapêutico: ‘Eu vou destroçar o seu ego e depois você vai renascer puro no lado de lá’. Aquilo não era verdadeiro, não tinha propósito, era apenas assédio moral”, acusa Kroeff. Para o ex-gestor, o “hábito” configura crimes de assédio moral, injúria e maus-tratos.

O caso foi denunciado ao Ministério Público do Trabalho mineiro, que deu início à ação judicial. Na primeira instância, o guru venceu. Os ex-funcionários e servidores recorreram. “Todo comportamento humano é determinado por ego, não existe nenhuma possibilidade de deixar uma pessoa sem ego. Não é meu discurso, nem minha prática, jamais tratei ninguém dessa maneira”, rebate Deva Nishok. “Processos trabalhistas acontecem, não há uma empresa que não tenha e eu, em 35 anos no ramo, tive apenas esse processo”, afirma.

Estupro e demissões
Dos acusadores de Nishok na pendenga trabalhista, Paulo Kroeff é o único que aceitou sair da proteção do sigilo judiciário para falar com a reportagem. Ele conta ter sido demitido pelo guru no ano passado por ter ficado ao lado das mulheres que denunciaram o pioneiro do sexo tântrico no Brasil de abuso e assédio sexuais.

A primeira acusação do tipo contra o guru – registrada no Ministério Público de São Paulo – foi feita por uma ex-aluna de Deva Nishok. A ela, o mestre teria dito sem rodeios: “Sabe o que eu penso sobre você, desde o primeiro dia em que colocou os pés aqui? Que você tem uma placa na testa escrito: ‘Nishok, me coma!’”.

De acordo com o registro aos promotores do caso, o terapeuta prosseguiu: “Você é uma neurótica obsessiva sexual compulsiva. Se não sabe se controlar aqui, tem vários terapeutas que podem fazer uma massagem tântrica em você”.

A outra denúncia é do início de 2018 e teria ocorrido durante uma massagem tântrica proporcionada pelo guru em uma das voluntárias do centro terapêutico em Itapeva. Revelada no começo deste ano, ela se configurou como abuso sexual mediante fraude, na avaliação do Ministério Público mineiro. A suposta vítima relata que ela e mais 14 voluntárias aceitaram passar a noite no sítio, após oferta de um funcionário.

No período, a denunciante fez a sessão com o guru, que, durante o procedimento, teria praticado sexo oral na voluntária. Segundo a mulher, não houve consentimento e Nishok só parou quando ela começou a chorar muito.

O caso foi denunciado a Júlia Zecchinelli, filha do guru e administradora da Communa. O então gestor Paulo Kroeff também tomou conhecimento: segundo ele, o funcionário responsável pelo “acolhimento” das voluntárias “foi prontamente mandado embora” pelo próprio Kroeff, que depois aceitou ser testemunha da denunciante e, por isso, teria sido demitido também.

O funcionário citado por Kroeff é o terapeuta Brayan Guimarães. Ele afirma que “Paulo me enviou uma mensagem dizendo que eu havia passado dos limites por receber as meninas e no dia seguinte trouxe a carta de demissão”.

“Quando fui até a Comunna pra acertar a demissão, ninguém falou nada. Não perguntaram nada, não explicaram nada, apenas preencheram os papéis e me dispensaram”, completa o ex-empregado, para quem, “é fácil, agora, Paulo dizer que ficou do lado das meninas. Na época, ele estava do lado da Communa”.

Cura em conversa
Uma testemunha que preferiu não se identificar diz que foi relatar o fato à filha de Nishok, Júlia Zecchinelli. A administradora do estabelecimento em Minas teria dito que não podia fazer nada, pois não era psicóloga, e pediu o silêncio sobre o ocorrido, dizendo que a cura da suposta vítima já estava sendo feita e ela não conseguia deixar de ver beleza nisso. Já a “cura de Nishok”, segundo a filha do guru, “iria acontecer numa roda de conversa”.

Cerca de duas semanas após o caso, Nishok foi hospitalizado. “Chegamos até o leito hospitalar, conversamos com sua mulher e soubemos que ele tinha tomado uma superdose de Rivotril, medicamento que costumava tomar para dormir”, conta Kroeff. De acordo com o ex-gestor da Communa, o terapeuta ficou extremamente abalado com a exposição do episódio e teria tentado o suicídio.

Outro lado
Deva Nishok nega todas as acusações. “Suicidar-me, eu? Meu único remédio é a meditação. Várias pessoas que fazem uso de antidepressivos vêm até a Communa e se curam através da meditação”, rebate. “Eu nunca tive um funcionário com o nome Paulo Kroeff. O que sei é que este rapaz fez alguns cursos da Communa, numa época”, afirma.

O ex-gestor, contudo, apresentou à reportagem cópias de notas fiscais emitidas pela Communa Metamorfose, com valores que afirma serem referentes ao seu salário no período trabalhado no local. Ele prestou depoimento em dois processos contra o guru do tantra, que correm no Tribunal de Justiça em Camanducaia e no Ministério Público do Trabalho em Pouso Alegre, ambos em Minas Gerais.

Quanto às afirmações da ex-aluna e da ex-voluntária, o “mestre” diz que as pessoas permanecem em seu centro terapêutico livremente. “Ninguém é obrigado. Diante de qualquer frustração na expectativa do curso ou qualquer outra insatisfação, a pessoa pode se retirar”, comenta Nishok.

“Eu desconheço isso que ela [a voluntária] me acusa. Não faço atendimento há anos, principalmente para uma pessoa que tinha chegado há pouco tempo e passava por um período de observação, como todos os voluntários recém-chegados”, completa.

O tantra é uma filosofia milenar indiana, que trabalha as dimensões da sexualidade humana enquanto prática sagrada. Tadeu Horta recebeu o nome Deva Nishok em um centro de meditação do igualmente polêmico Osho, em 1996, na Índia. O brasileiro pesquisa o tantra enquanto meditação e terapia há 35 anos. Compilou essa filosofia num método terapêutico e fundou sua escola, o centro Communa Metamorfose.

As informações são do portal Metrópoles.

 

 

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