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Após assassinato de sem-teto em SP, padre teme matança com liberalização de arma

Neste mês, o presidente Jair Bolsonaro publicou decreto que facilitou o porte de armas para quem está inserido em 20 categorias, entre elas, políticos, advogados, caminhoneiros e moradores de áreas rurais.


Por Folhapress Publicado 14/05/2019
Reprodução

A flexibilização do porte de armas vai elevar a matança de moradores de rua no país. Quem diz isso é o padre Júlio Lancelotti, figura emblemática na defesa dos direitos humanos dos sem-teto.

Neste mês, o presidente Jair Bolsonaro publicou decreto que facilitou o porte de armas para quem está inserido em 20 categorias, entre elas, políticos, advogados, caminhoneiros e moradores de áreas rurais.

O religioso baseia a sua preocupação após o assassinato de Sebastião Lopes dos Santos, 40, homem que morava nas ruas do bairro Assunção, em Santo André (Grande SP), e garantia o próprio sustento com a catação de recicláveis.

Sebastião morreu na noite do último sábado (11) atingido por vários tiros disparados por um homem que estava no banco do passageiro de uma Mercedes. As circunstâncias do crime ainda são apuradas pela polícia. Nenhum envolvido no assassinato foi preso.

“Ocorreu uma execução explícita dentro de uma linha de exceção de ilicitude. As pessoas podem, para defender seus espaços, atirar para matar. Esse foi um exemplo claro do que o governo federal está propondo daqui para frente”, afirmou Lancelotti.

O caso de Sebastião chocou, segundo o padre, porque não houve sinais de que a vítima tenha provocado o autor dos disparos. “Ele [Sebastião] não esbarrou e nem raspou o carro do suspeito, não brigou, não fez nada. Ele morreu porque era catador e estava ocupando o espaço público”, disse.

Imagens de uma câmera de segurança mostram que o veículo suspeito passou pelo local e avistou o morador de rua cerca de dez minutos antes de cometer o crime.

Na sequência, outra imagem capta o suspeito, um homem de altura mediana, vestido de camiseta e boné descendo da Mercedes e caminhando na rua Visconde de Mauá na direção de Sebastião. Ele começa a atirar contra a vítima e depois vai embora de carro.

“A flexibilização do porte de armas vai elevar o aumento de assassinatos dos moradores de rua porque eles são indesejáveis. Essa população está crescendo e vai se aproximar cada vez mais dos carros, das casas e das pessoas. É esse contato cada vez mais recorrente que me preocupa. Não sabemos quem são as pessoas que estão do outro lado. Ainda mais agora que poderão portar uma arma”, diz Júlio Lancelotti.

Coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, padre Júlio Lancelotti já foi agredido e recebeu ameaças de morte pelas denúncias que faz contra os abusos cometidos contra a população de rua. A OEA (Organização dos Estados Americanos) cobrou das autoridades brasileiras a proteção do pároco. “Eles queriam que eu andasse com escolta, mas como eu vou manter a minha missão com essa gente em volta me protegendo?”.

As investigações sobre o assassinato de Sebastião estão sob o guarda-chuva da Delegacia de Homicídios de Santo André. Os investigadores buscam novas imagens para identificar a numeração da placa da Mercedes usada no crime.

Por meio de nota, a secretaria de Segurança Pública da gestão Doria (PSDB) disse que “testemunhas e pessoas próximas à vítima serão ouvidas para auxiliar no esclarecimento da motivação do crime.” Uma das pessoas aguardadas na delegacia é a mulher de Sebastião.

A subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André disse à reportagem que acompanha as investigações por meio de sua comissão de Segurança. “Estamos acompanhando ainda a distância. Essa etapa é importante para definirmos se haverá ou não a necessidade de uma intervenção no caso”, disse Andrea Tartuce, a presidente da entidade na cidade da Grande São Paulo.

“É um caso horripilante que não vai cair no esquecimento das autoridades”, completou Tartuce.
Sebastião era conhecido por todos e tomava banho em um parque próximo do bairro Assunção. Segundo um morador da região que falou com a reportagem sob a condição de anonimato, o catador de recicláveis nunca fez mal a ninguém.

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