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Trump suspende trégua do G-20 e anuncia tarifa de 10% sobre R$ 1,1 tri em bens da China

Após as declarações do presidente americano, os índices acionários dos EUA reduziram ganhos nesta quarta e o Dow Jones passou a operar em território negativo


Por Folhapress Publicado 01/08/2019
Divulgação

O presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu nesta quarta-feira (1º) suspender a trégua na guerra comercial com a China e anunciar uma tarifa adicional de 10% sobre R$ 1,1 trilhão restantes em importações chinesas no país a partir de 1º de setembro.
A avaliação de analistas que acompanham as negociações é de que o presidente reverteu o cenário de boas práticas estabelecido durante a reunião da cúpula do G-20, no Japão, por avaliar que os chineses não cumpriram sua parte no acordo.
Apesar disso, ponderam, Trump não pretende encerrar as tratativas comerciais com a potência asiática e o mercado deve recuperar as perdas iniciais após o anúncio desta quarta-feira via equilíbrio fiscal, com uma esperada desvalorização da moeda chinesa.
“As negociações comerciais continuam e, durante as conversas, os EUA começarão, em 1º de setembro, a colocar uma pequena tarifa adicional de 10% sobre o R$ 1,1 trilhão (US$ 300 bilhões) restantes em bens e produtos vindos da China para o nosso país. Isso não inclui os R$ 957 bilhões (US$ 250 bilhões) já tarifados em 25%”, escreveu Trump no Twitter.
Durante o encontro dos líderes em Osaka, no fim de junho, Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, combinaram um cessar fogo comercial em que os EUA permitiria vendas expandidas de suprimentos de tecnologia para a gigante chinesa de Huawei, enquanto os orientais comprariam produtos agrícolas americanos, como a soja, e encerrariam as vendas do opioide sintético fentanil ao país.
Os chineses, de fato, anunciaram na semana passada pelo menos cinco produtores dos EUA que estariam isentos de tarifa, mas o presidente americano disse que eles não efetivaram a medida. Em suas redes sociais nesta quarta, Trump criticou a contraparte asiática mais duramente sobre as vendas do fentanil.
“Recentemente, a China concordou em comprar produtos agrícolas dos EUA em grande quantidade, mas não o fez. Além disso, meu amigo presidente Xi disse que iria parar de vender o fentanil para os EUA –isso nunca aconteceu e vários americanos continuam morrendo!”, escreveu o presidente em referência à crise dos opioides que tem assolado o país.
Especialistas nas negociações comerciai observam que o presidente americano não colocou uma condicional em seu anúncio, deixando em aberto a possibilidade de voltar atrás com a implementação das tarifas caso a China suspenda realmente a venda do opioide e passe a comprar os produtos de agricultores americanos.
O anúncio de Trump ocorreu um dia depois de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) cortar as taxas de juros pela primeira vez em mais de uma década, em uma tentativa de proteger dos riscos mundiais crescentes a expansão da economia dos EUA, incluindo as incertezas causadas pela guerra comercial com chineses.
Após as declarações do presidente americano, os índices acionários dos EUA reduziram ganhos nesta quarta e o Dow Jones passou a operar em território negativo.
A avaliação dos analistas, no entanto, é menos pessimista. Afirmam que a reação inicial era previsivelmente negativa, mas que a aplicação de uma tarifa de 10% sobre bens chineses deve ser olhada em perspectiva histórica.
No ano passado, quando os EUA aplicaram 10% sobre US$ 250 bilhões (R$ 957 bilhões) em bens chineses, as importações americanas não foram prejudicadas num primeiro momento. Pelo contrário, o equilíbrio do câmbio, via desvalorização da moeda chinesa, permitiu que as perdas não fossem repassadas para a cadeia de produção ou mesmo para o consumidor final.
Este ano, porém, quando as tarifas subiram para 25%, as importações chinesas nos EUA caíram 12% e o valor já pareceu disruptivo para algumas cadeias.
Dessa forma, os primeiros 10% podem ser tolerável no início, mas é preciso estar atento e observar caso haja novos desdobramentos.
Negociadores dos EUA e China encerraram dois dias de conversas em Xangai na quarta-feira com poucos sinais de progresso, embora ambos os países tenham descrito as negociações como construtivas. Uma nova rodada de reuniões entre os negociadores foi marcada para setembro.
Como mostrou a Folha de S.Paulo em junho, a escalada da guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais abre espaço para o crescimento nas exportações de 34 produtos brasileiros ao mercado americano.
As transações poderiam avançar em até US$ 4,25 bilhões dos US$ 250 bilhões de bens chineses taxados pelo governo Trump, entre eles ferro, plástico e madeira.
Hoje, o Brasil exporta US$ 1 bilhão desses mesmos produtos, ou seja, haveria oportunidade de o país elevar as vendas em pelo menos US$ 3 bilhões com a disputa entre as potências econômicas.
Enquanto as tarifas estiverem altas, o apetite da China para comprar dos EUA é cada vez menor, o que beneficia o exportador brasileiro.
Por outro lado, os chineses devem usar exatamente esse tipo de bens como moeda de troca para conseguir mais vantagens com os americanos e, com o acordo fechado, o Brasil poderia perder mercado para Washington.

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