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Papa Francisco recusa encontro com Pompeo

Vaticano se posicionou contra uso político da Igreja


Por Folhapress Publicado 01/10/2020
Foto: Vatican News

O Vaticano informou, nesta quarta-feira (30), que recusou o pedido de Mike Pompeo por uma audiência com o papa Francisco e acusou o secretário de Estado americano de tentar arrastar a Igreja Católica para a o contexto político das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Os dois principais diplomatas do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, e o arcebispo Paul Gallagher, ministro das Relações Exteriores, disseram que o pontífice não quis se encontrar com Pompeo porque evita se encontrar com políticos antes de eleições.

“Sim, ele pediu. Mas o papa já havia dito claramente que figuras políticas não são recebidas em períodos eleitorais. Essa é a razão”, disse Parolin.

Nos últimos dias, o americano tem apelado à “autoridade moral” da Igreja para se posicionar contra um acordo entre Vaticano e Pequim para nomear bispos católicos chineses.

“A Igreja tem uma enorme autoridade moral e queremos encorajá-la a usar essa autoridade moral para melhorar as condições dos fiéis, certamente os católicos, mas fiéis de todas as religiões dentro da China”, disse Pompeo, em entrevista à agência de notícias católica CNA.

Em um artigo publicado no mês passado, o secretário afirma que “a situação dos direitos humanos na China piorou severamente sob o governo autocrático de Xi Jinping”.

Pompeo menciona denúncias de esterilização e abortos forçados contra minorias muçulmanas em Xinjiang, no oeste da China, além de ataques a padres católicos e igrejas protestantes como parte de uma campanha chinesa “para subordinar Deus ao Partido [Comunista] enquanto promove promove o próprio Xi como uma divindade ultramundana”.

De acordo com o americano, a Igreja coloca em risco sua autoridade moral se renovar o acordo com a China, segundo o qual o papa é ouvido por Pequim para nomear bispos chineses.

Com expiração prevista para este mês, o acordo deve ser renovado pela Santa Sé, que o considera um avanço depois de décadas em que católicos chineses exerceram sua fé na clandestinidade.

Parolin e Gallagher classificaram as críticas públicas de Pompeo como uma surpresa. “Normalmente, quando você está preparando essas visitas entre funcionários de alto escalão, você negocia a pauta sobre o que vai falar em particular, confidencialmente. É uma das regras da diplomacia”, disse Gallagher.

O discurso anti-China tem sido uma das principais bandeiras do presidente Donald Trump, na tentativa de demonstrar poder contra a ascensão chinesa que ameaça a hegemonia americana no âmbito global. Por isso, Pompeo foi acusado por críticos de não estar de fato preocupado com os católicos chineses, e sim alimentando a retórica de Trump contra Pequim.

“Alguns interpretaram desta forma, que os comentários [de Pompeo] eram acima de tudo para uso político doméstico. Eu não tenho prova disso, mas certamente esta é uma maneira de ver as coisas”, disse Parolin, para quem o acordo Vaticano-China “é um assunto que nada tem a ver com a política americana” e “não deve ser usado para esse tipo de fim”.

Questionado durante uma entrevista coletiva se estava tentando “começar uma briga” contra o Vaticano por causa da China e se isso poderia impactar os eleitores americanos católicos, Pompeo limitou-se a responder: “Isso é loucura.”
Em seu discurso, o secretário não abordou diretamente o acordo entre Pequim e a Igreja, mas voltou a se referir à China como o país que mais fere direitos religiosos no mundo.

“Em nenhum lugar a liberdade religiosa está mais sob ataque do que na China”, disse Pompeo. Segundo ele, o regime de Xi Jinping está tentando “apagar a lâmpada da liberdade em uma escala horrorizante”.

Na manhã desta quinta-feira (1º), Parolin e Gallagher receberam Pompeo em reunião que durou 45 minutos, de acordo com um comunicado oficial do Vaticano.

“As partes apresentaram suas respectivas posições concernentes às relações com a República Popular da China, num clima de respeito, descontraído e cordial. Falou-se, ademais, sobre algumas áreas de conflito e de crise, particularmente o Cáucaso, o Oriente Médio e o Mediterrâneo Oriental”, disse Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.

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