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Morre argentino Quino, criador da Mafalda

Ele era o pai de uma das personagens mais famosas do mundo dos quadrinhos, a inconformada Mafalda, uma menina de classe média argentina nascida em setembro de 1964


Por Folhapress Publicado 30/09/2020
Morre argentino Quino, criador da Mafalda
Quino, cartunista argentino conhecido por criar as histórias em quadrinhos da personagem Mafalda, morreu aos 88 anos nesta quarta-feira, 30 – (Foto: Patricio Murphy / Brazil Photo Press/Folhapress).

O chargista e artista gráfico Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino, morreu nesta quarta-feira (30), aos 88, em Mendoza, sua cidade-natal.
“Morreu Quino e, com isso, todas as pessoas boas deste país e do mundo irão chorar”, disse Daniel Divinsky, seu editor, ao anunciar a morte por meio das redes sociais.

Ele era o pai de uma das personagens mais famosas do mundo dos quadrinhos, a inconformada Mafalda, uma menina de classe média argentina nascida em setembro de 1964, fã dos Beatles, de panquecas e que odeia sopa. A personagem completou 56 anos nesta terça, dia 29 de setembro.



Mafalda também tem um agudo senso crítico para as injustiças sociais e para questões relacionadas à existência humana. Nunca assumiu posições políticas explícitas, mas claramente era identificada com os movimentos progressistas.
Embora tenha existido por meio de tirinhas publicadas em jornais só entre 1964 e 1973, Mafalda permaneceu viva no imaginário argentino, povoando memes, cartazes políticos, feministas e progressistas em geral.



Filho de imigrantes espanhóis, Quino se mudou para Buenos Aires, aos 18 anos, para estudar desenho. Começou a publicar charges e quadrinhos em jornais em 1954.

Em 1963, lançou seu primeiro livro de humor, “Mundo Quino”, e, no ano seguinte, publicou na revista Primera Plana a primeira história de Mafalda e sua turma, que logo se transformaram em símbolos da efervescente cultura da década de 1960 na Argentina -se tornando famosa também nos demais países da América Latina.
Quino recebeu prêmios importantes, como a Ordem Oficial da Legião de Honra, da França, e o prêmio Príncipe de Astúrias, da Espanha.



Em 1965, Mafalda começou a ser publicada no jornal argentino El Mundo, um dos principais dessa época. A garotinha de cabelos negros enrolados andava sempre acompanhada de um grupo de amigos, alguns baseados em personagens da vida real do cartunista Quino.

Um deles é Manolito, baseado na figura de Anastasio Delgado, um imigrante espanhol dono de uma padaria em Mendoza. Outro é Felipe, baseado em Jorge Timossi, um amigo dentuço que foi um colega de Quino na escola.



Também foi criada Susanita, uma típica menina de classe média argentina, mas que é oposta a Mafalda, ou seja, vive com sonhos românticos e tem uma visão idílica do mundo.

Na Argentina, até hoje, chamam de Susanita o que no Brasil seria uma “patricinha”, ou seja, alguém bem diferente do estilo questionador de Mafalda. Esta não sonha com o casamento com um príncipe encantado, por exemplo.



Muitas das tiras de Mafalda são silenciosas, sem uma única palavra, e Quino sempre trabalhou muito com mensagens que se podem deduzir a partir do próprio desenho.

Pouca gente sabe, mas Mafalda nasceu, na verdade, a partir de um projeto comercial, um trabalho de Quino como colaborador para promover uma marca de eletrodomésticos, porque então o artista precisava de dinheiro.

Já transposta para as tiras de jornal, Mafalda se transforma nessa garota rebelde, sempre expondo os seus dramas de teor quase filosófico nas brincadeiras e debates com os coleguinhas. Em 1967, a mãe de Mafalda fica grávida, e é então que aparece o personagem Guille, o pequeno irmãozinho da personagem.


Nessa época, Quino também passou a ser traduzido para vários idiomas. Sua primeira edição em italiano teve uma introdução de Umberto Eco e levava o título -“Mafalda, a Contestadora”. Foi traduzida ainda para outras 15 línguas e editada em mais de 30 países em todo o planeta.

Em 1973, porém, Quino decidiu deixar de publicar histórias inéditas da personagem. Depois disso, o ilustrador só a desenhou por razões que considerava importantes, como campanhas de defesa da infância, pela melhoria da educação infantil e a favor da democracia. Fez também desenhos especiais para campanhas da Unicef, da Cruz Vermelha e para o governo argentino, sempre relacionado a questões sociais e nunca à propaganda política.

Em 1979, foi lançado um longa-metragem com o nome de sua personagem, obra com direção de Carlos Márquez.

Nos últimos anos, a personagem Mafalda acabou sendo muito usada pelo movimento feminista na Argentina, com o aval de Quino. Mafalda tem aparecido vestida de verde ou usando lenços verdes, na campanha pró-aborto que ocorre no país nos últimos cinco anos. Em 2018, uma edição só com suas reivindicações para a mulher foi editada em “Mafalda: Femenino Singular”, publicado pelo selo Ediciones de la Flor -um total sucesso entre adolescentes argentinas contemporâneas.


O fim de Mafalda nunca foi bem explicado. Na época, Quino afirmou que tinha medo de começar a se repetir, porém, em entrevistas mais recentes, deixou subentendido que passara a temer ser alvo de represálias de caráter político.

Eram anos pré-golpe militar e de intensa violência na sociedade de seu país, com repressão do Estado ocorrendo ainda em tempos de democracia por meio da Triple A, o esquadrão da morte do governo de Isabelita Perón, e o exílio de vários artistas e intelectuais argentinos. “Se eu continuasse desenhando, poderia tomar uns quatro tiros”, disse o cartunista, numa entrevista ainda na década de 1990.

Ele estava casado com Alicia Colombo, uma química de origem italiana. Nos últimos anos, aparecia pouco em público, em cadeira de rodas, e já não dava entrevistas, porém, segundo seu entorno, permanecia perfeitamente lúcido

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