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Mensagens deixam vice-presidente do Paraguai em situação delicada

Nas mensagens, o advogado José Rodríguez diz estar tratando, em nome do vice-presidente, do interesse da compra de energia por parte de representantes da empresa brasileira Léros, que, segundo as mensagens, representariam a "família presidencial do país vizinho", ou seja, a família do presidente Jair Bolsonaro


Por Folhapress Publicado 03/08/2019
Divulgação

Mensagens de texto trocadas entre o advogado José Rodríguez, que se apresentou como assessor jurídico da vice-presidência do Paraguai, e Pedro Ferreira, então presidente da Ande, a agência nacional de eletricidade do país, complicaram ainda mais a situação do vice-presidente paraguaio, Hugo Velázquez.

Na quinta-feira (1º), o Paraguai assinou um documento que cancela o acordo bilateral que favoreceria o Brasil na contratação da energia de Itaipu. O pacto, assinado em maio, elevaria os custos para a empresa estatal de eletricidade do país em mais de US$ 200 milhões e, por isso, foi interpretado por opositores como um ato de “traição à pátria”.
A oposição paraguaia ameaçou pedir o impeachment do presidente Mario Abdo Benítez e de seu vice, o que acabou não acontecendo devido ao cancelamento do pacto.

Nas mensagens, o advogado Rodríguez diz estar tratando, em nome do vice-presidente, do interesse da compra de energia por parte de representantes da empresa brasileira Léros, que, segundo as mensagens, representariam a “família presidencial do país vizinho”, ou seja, a família do presidente Jair Bolsonaro.

As conversas foram entregues pelo ex-presidente da Ande em audiência no Ministério Público paraguaio na quinta. “José Rodríguez, para mim, era o assessor jurídico do vice-presidente”, disse Ferreira ao deixar o local. Ele afirma ter entregue uma pasta cheia de informações sobre a venda à empresa brasileira.

Nas mensagens, Ferreira alerta Rodríguez que o ponto seis do acordo estabelecia “não poder haver exclusividade” na venda de energia para uma empresa brasileira. Sem a restrição, o Paraguai poderia vender o excedente de energia elétrica produzida em Itaipu para quem desejasse.

Depois, em conversa com um diretor da Ande não identificado, o advogado disse que o assunto fora tratado “pelos altos mandos” dos dois países e que o ponto seis seria omitido do documento final “a fim de resguardar o manejo prudente da informação, para que a operação em curso (com a empresa brasileira) se efetive com o maior êxito”.
Rodríguez menciona ainda Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), como receptor da carta de intenções relacionada à venda de energia ao Brasil.
Em entrevista à revista piauí, Giordano confirma ter participado de uma reunião no Paraguai para tratar da venda de excedentes de energia de Itaipu no Brasil.

Negou, no entanto, ter falado em nome do governo brasileiro ou da família do presidente Bolsonaro.
Em sua apresentação diante do Congresso no começo da semana, Velázquez afirmou que Rodríguez não o representa e que não o conhece.
Depois, no mesmo depoimento, entrou em contradição e afirmou ter ido com o advogado a um evento esportivo. A imprensa paraguaia mostrou fotos de redes sociais que mostram Rodríguez e um dos filhos do vice-presidente em festas, dizendo tratar-se de um amigo da família.

O vice-presidente, um veterano do Partido Colorado que iniciou a carreira política durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) e já havia estado tanto com o grupo liderado pelo ex-presidente Nicanor Duarte (2003-2008) quanto com o de Horacio Cartes (2013-2018), é um velho conhecido pelos escândalos que protagoniza no país.

Velázquez é famoso pelas ligações a diversas denúncias de corrupção, enriquecimento ilícito, contrabando, lavagem de dinheiro e interferência em decisões judiciais. Oriundo de uma família pobre, ele só pôde começar a estudar devido à ajuda de uma tia. Atualmente, é dono de um império imobiliário e de um negócio milionário de criação de cavalos de raça para exportação.
Em 2016, um artigo publicado pela revista Foreign Policy relacionou Velázquez a ações da milícia libanesa Hizbullah na América Latina.

O texto afirmava que o paraguaio estava vinculado a nomes importantes da rede de terroristas na Tríplice Fronteira, onde praticavam atividades ilícitas para reunir fundos para suas operações no Oriente Médio.
A relação com o grupo extremista teria ocorrido durante os anos em que atuou como promotor em Ciudad del Este. Ali, foi acusado de receber subornos por meio de um escritório de advocacia para livrar diversos líderes de máfias de contrabando de processos.

Velázquez também é conhecido por sua generosidade com familiares. Há inúmeros empregados em postos públicos. Entre eles, sua irmã, Carmen Velázquez de Martínez, funcionária da Ande –a agência nacional de eletricidade.
Outra irmã, Martha Lorena Velázquez Moreno, trabalha no Ministério Público paraguaio, enquanto a ex-mulher, Sonia Elena Escauriza, é funcionária do Ministério da Educação e da Cultura.
Dois de seus filhos também receberam empregos como presentes de Velázquez. Dionicio Adalberto Velázquez Giménez é funcionário, justamente, de Itaipu, e Sonya Rebeca Velázquez Escauriza trabalha em outra binacional, esta entre Paraguai e Argentina, a de Yaciretá.

Dois de seus sobrinhos trabalham como funcionários administrativos do Partido Colorado na Câmara dos Deputados do Paraguai.

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