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Simulação calcula que até 46% de alunos podem ser infectados dois meses após volta às aulas

De acordo com a pesquisa, o maior número de infectados seria em escolas menores e caso as regras de distanciamento social e higiene não sejam rigorosamente cumpridas


Por Folhapress Publicado 21/08/2020
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Uma simulação sobre a dispersão do novo coronavírus calcula que, 60 dias após a retomada das aulas presenciais, entre 11% e 46% dos alunos e professores de uma escola podem ser infectados.

O maior número de infectados seria em escolas menores e caso as regras de distanciamento social e higiene não sejam rigorosamente cumpridas.

O cálculo foi feito pelos grupos de estudo Ação Covid-19 e a Repu (Rede Escola Pública e Universidade), que reúnem pesquisadores de UFABC, Unifesp, UFSCar, IFSP, Universidade de Bristol (na Inglaterra) e Escola de Aviação do Exército (na Colômbia).

A simulação foi feita considerando a volta de apenas 35% dos alunos, conforme prevê o protocolo da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. O governo João Doria (PSDB) planeja o retorno das atividades presenciais a partir de 7 de outubro.

Os pesquisadores consideraram que a cada dez dias uma nova pessoa que frequenta a unidade fosse infectada. A partir desses indivíduos infectados, o estudo avaliou como seria a dispersão do vírus para as demais pessoas -a calibragem do cálculo considera que há 39% de chance de transmissão do vírus de uma pessoa infectada para outra. O estudo considerou três momentos de maior interação entre alunos e funcionários ao longo do dia: entrada, intervalo e saída.

“O estudo não pretende ser uma previsão do que vai acontecer, mas, sim, simular a dispersão que pode ocorrer caso alguém infectado frequente uma escola. Para isso, consideramos dois cenários: o de uma escola com maior área, onde as pessoas podem ficar mais distantes, e uma escola menor”, disse Patrícia Magalhães, pesquisadora da Universidade de Bristol.

Para a primeira simulação, os pesquisadores usaram os dados de uma escola estadual de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Essa unidade, com 400 alunos e 9.000 m², permitiria um distanciamento maior entre os frequentadores.
Num cenário em que todos da escola estejam cumprindo as regras de distanciamento e de higiene, o cálculo considera que 70% dos frequentadores não se movimentam dentro da unidade e as interações ocorreriam apenas em três situações durante o dia.

Ainda assim, 10,7% dos alunos e professores poderão ter sido infectados dois meses após o retorno se houver a presença de um infectado a cada dez dias.

No segundo cenário, com uma escola menor e mais cheia, eles consideraram uma unidade da Brasilândia, na zona norte da capital. Para isso, usaram os dados de um colégio com 700 alunos e 6.500 m².

Ainda que as regras de distanciamento sejam cumpridas, nessa escola a dispersão do vírus seria maior por causa do adensamento. Ao final de dois meses, considerando a entrada de um infectado a cada dez dias, 46,3% dos alunos e professores teriam sido infectados.

“Fizemos uma simulação conservadora, considerando um número baixo de pessoas infectadas indo à escola, e vimos como a dispersão pode ser grande. Em escolas mais adensadas, a disseminação seria muito maior”, disse Magalhães.

Segundo a pesquisadora, as simulações consideram apenas as interações dentro das escolas, sem levar em conta o trajeto que alunos e professores fariam para chegar até as unidades e o contato com familiares. “A reabertura das escolas vai mudar a dinâmica da epidemia no estado porque os colégios não são ilhas, não são bolhas protegidas. O cálculo mais conservador mostra o potencial de dispersão apenas dentro das unidades, mas precisamos considerar que essas pessoas vão voltar para casa, vão usar transporte público e infectar ainda mais gente”, disse o professor de políticas educacionais Fernando Cássio, da UFABC e integrante da Repu.

Ele destacou ainda que as simulações mostram que as dinâmicas de infecção pelo coronavírus são bastante sensíveis às caraterísticas físicas e demográficas das escolas e só seriam evitadas se a quantidade de estudantes presentes nos ambientes escolares fosse bem inferior aos 35% recomendados pelo governo.

Os cálculos do simulador apontam que, em escolas mais adensadas, a dinâmica de infecção só poderia ser controlada com o retorno de menos de 7% dos alunos. “Está sendo muito difícil manter as atividades a distância, mas não podemos colocar os estudantes, professores e suas famílias em risco”, disse Cássio.

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