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Quase um quarto das usinas de cana não produz nesta safra

De acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), a previsão é que a safra deste ano repita a de 2018/19


Por Nani Camargo Publicado 06/05/2019
Divulgação

Mais usinas sem moer cana-de-açúcar, preferência na fabricação de etanol e uma produção estagnada. Esse é o cenário previsto para a safra 2019/20, que iniciou em abril com uma em cada cinco usinas com as atividades paralisadas no país.
De acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), a previsão é que a safra deste ano repita a de 2018/19, com produção de cerca de 573 milhões de toneladas de cana. O previsto para a safra passada era 596 milhões, não alcançadas devido a fatores climáticos.
Entre os problemas para impedir o avanço dos canaviais neste ano estão áreas abandonadas, substituição de cana por outras culturas e áreas que foram preparadas para plantio entre dezembro e abril maior do que no ano anterior -o que significa que a cana não estará pronta para ser colhida neste ano.
Para piorar o cenário, levantamento da RPA Consultoria mostra que 101 das 444 usinas do país, ou 22,7%, não devem moer cana nesta safra, o que representa 4 usinas a mais que as 97 excluídas da safra anterior.
Embora pequena, a variação mostra que o setor não se recuperou da crise que o atingiu a partir do fim da década passada.
“São coisas que vieram de política errada no passado, decorrentes da crise que o setor enfrentou entre 2008 e 2014. Há empresas evoluindo muito, se dedicando mais ao plantio e usando tecnologia”, disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues.
Essas usinas não estão necessariamente falidas ou em recuperação judicial, podem ter deixado de moer por estratégia de grupos sucroenergéticos ou para poupar custos -dividindo a cana entre as usinas que estão operando na atual safra.
É o caso da Raízen, gigante do setor, que não vai operar suas usinas em Araraquara e Dois Córregos, ambas no interior paulista, o que já ocorre desde 2017. O motivo é a falta de cana para moer.
A Clealco, que teve plano de recuperação judicial aprovado por credores na última semana, está com duas de suas três usinas sem moer.
Há 80 usinas já em recuperação judicial ou com pedidos feitos -ante as 68 da safra anterior. É o caso da Itajobi Açúcar e Álcool, também de São Paulo, que protocolou em abril pedido de recuperação.
Na última safra, São Paulo perdeu cerca de 140 mil hectares de cana, o equivalente a 196.078 campos de futebol padrão Fifa, para outras atividades, como a soja, na região de Piracicaba.

CADA VEZ MAIS ETANOL
Como nos últimos anos, 2019 deve ser marcado por uma prioridade à produção de etanol, mais rentável às usinas que o açúcar.
Em 2017, o açúcar representou 46,46% da cana moída nas usinas, percentual que recuou para 35,20% na safra passada e que, na primeira quinzena da atual temporada, ficou em 23,55%.
“Assim deve permanecer até meados da safra, ao menos. Pode ter alguma reversão dependendo do balanço mundial de açúcar, em setembro, mas a chance de migrar [a produção] passa a ser pequena”, disse.
Padua cita outro motivo: “Independentemente do preço [do etanol na bomba, em relação à gasolina], é o produto que tem liquidez imediata [para as usinas], que cobre o caixa das empresas em curtíssimo prazo”.
Para Marcos Fava Neves, docente da USP (Universidade de São Paulo) e da FGV, o ano projeta ser bom para a cana, porque o deficit na produção mundial de açúcar também vai ajudar a consumir parte dos elevados estoques.
“Há outro ponto que é o PIB. Mesmo que seja inferior ao projetado, eleva a venda de carros novos e o consumo de combustível, o que beneficia o etanol hidratado. Sua perspectiva de consumo cresce ainda mais quando analisamos a alta do preço do petróleo”, disse o docente.
A safra, oficialmente aberta em abril, teve uma primeira quinzena com queda de 37,99% na moagem em relação ao mesmo período de 2018, por causa das chuvas.
A previsão da Unica era de que 176 usinas estivessem em atividade até o último dia 15, mas havia 150 em operação, ante 174 do mesmo período do ano passado.
Independentemente disso, iniciou com 76,45% da cana processada sendo usada para fabricar etanol.
Apesar das áreas abandonadas, da troca da cana por outras culturas e do aumento de área com cana nova, a perspectiva é de que a safra seja igual porque o canavial deve produzir mais toneladas por hectare em comparação à última safra, que sofreu com o clima.
De acordo com Rodrigues, o setor sucroenergético nacional é heterogêneo e apresenta três grupos em que as usinas estão inseridas, com possibilidades de mudanças dependendo do caminho que elas seguirem.
“Um terço das unidades posso comparar à Califórnia, com boa gestão, produtividade, caixa. E tem outro grupo que estaria aí muito mais considerado na área de pobreza, da África, com baixa produtividade agrícola, não gera caixa, alto endividamento e sobrevive com cultura de subsistência, não reforma canaviais, não planta. E tem um grupo intermediário, que tanto pode ir para a Califórnia quanto para a África.”

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