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Chocolate da Páscoa encalha, e Gramado calcula prejuízos

A pandemia fez com que 85% da produção de chocolate encalhasse. O número equivale a 1,2 tonelada de ovos, barras e bombons em estoque


Por Folhapress Publicado 28/03/2020

A Páscoa de 2020 nem chegou, e a indústria chocolateira gaúcha já quer esquecê-la. A região de Gramado, Canela e Nova Petrópolis (RS) –cidades visitadas nesta época por turistas em busca de chocolate artesanal– está deserta devido ao coronavírus.

Quem caminha pelas ruas das cidadezinhas de ares germânicos encontra portas das lojas cerradas, inclusive as das chocolatarias. Hotéis e pousadas estão fechados. Para algumas fábricas, as vendas físicas representam 70% de seu faturamento.

Neste ano, a Páscoa é celebrada no domingo de 12 de abril, mas as atrações culturais costumavam começar ao menos uma semana antes. Para complementar o cenário de desolação no setor, eventos de Páscoa que atraem milhares de turistas estão cancelados.

A pandemia fez com que 85% da produção de chocolate encalhasse. O número equivale a 1,2 tonelada de ovos, barras e bombons em estoque.

“O arroz tem safra, a soja tem safra e o chocolate tem a Páscoa como safra. O impacto veio no pior momento possível. O que deveria ser a melhor época do ano virou um pesadelo”, afirma Augusto Schwingel Luz, diretor-executivo da Chocolate Lugano.

A empresa deve deixar de vender, sozinha, entre 35 e 40 toneladas de chocolate, o que representa cerca de R$ 5 milhões. A fábrica tem 34 franquias no país, e essas lojas também estão fechadas. “Um cliente corporativo encomendou 9.000 ovos de Páscoa para os funcionários. Agora tenho 9.000 ovos parados no estoque”, afirma Schwingel.

As mais de 30 fábricas de Gramado estão paradas. As maiores iniciaram a produção de chocolates ainda em novembro de 2019. A suspensão das atividades na região resulta de decretos locais que buscam controlar a proliferação do novo coronavírus.

São cerca de 2.000 empregos temporários gerados nesta época, afirma o prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci (PDT). Para combater a pandemia, a prefeitura cancelou o evento Páscoa em Gramado, que esperava 350 mil visitantes em apenas uma semana.

A prefeitura estima que R$ 20 milhões deixarão de entrar pontualmente no caixa do município, incluindo o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), devido à crise.

Os vencimentos dos impostos estão sendo adiados. Os que venciam em março serão cobrados apenas em outubro, os de abril, em novembro, e assim por diante, diz o prefeito.

“É um prejuízo direto, mas ainda não sabemos calcular precisamente a ressaca econômica”, lamenta Bertolucci.

A Chocofest, em Nova Petrópolis –que esperava receber 200 mil visitantes–, também foi cancelada. Primeiro, a decoração da festa não foi instalada na rua, para evitar exposição dos montadores ao coronavírus e possíveis aglomerações em torno dos simpáticos coelhos. Depois, o evento precisou ser cancelado totalmente, diz Eduardo Zorzanello, diretor-executivo da Rossi & Zorzanello, empresa que realiza a Chocofest.

“A principal matriz da nossa economia é o turismo. Os eventos são um alicerce fundamental para conseguir movimentar as cidades e gerar sustento. Hoje se vê tudo parado, comércio fechado, hotelaria, gastronomia”, diz Zorzanello, que também é presidente do Convention & Visitors Bureau Gramado e Canela.

Sem circulação de pessoas, as vendas de chocolate são prejudicadas. A maior parte do comércio é tradicional, não virtual, e tem vendas concentradas na semana da Páscoa.

“Nossas vendas são em feiras, shoppings e aeroportos. Vendemos pelo site, mas ainda é um volume baixo”, diz Jaderson Souza, gerente de produção da marca Caracol.

Souza também preside a Achoco (Associação dos Chocolateiros de Gramado). A entidade espera que haja alguma flexibilização no funcionamento do comércio em razão do novo coronavírus.

“É uma Páscoa perdida. A reabertura de algumas lojas pode minimizar um pouco o prejuízo, mas consideramos uma Páscoa perdida. Já estamos pensando no futuro.”

No país, algumas das principais empresas do setor –que já haviam concluído a produção de ovos e estocado lojas– intensificaram os esforços para possibilitar entregas por delivery e limitar perdas.

Para a Cacau Show, que vende principalmente em lojas próprias, o impacto será grande, já que a Páscoa representa 30% de seu faturamento anual.

“Os ovos já estão fabricados e em estoque, mas as lojas estão fechadas. Isso é muito danoso. Ampliamos o delivery e estudando implementar um drive thru até a Páscoa. Mas isso não fará frente à demanda de anos anteriores”, disse o presidente da empresa, Alexandre Costa.

“A Páscoa é o grande salvador do ano. Aceleramos a expansão de entregas e atendimento remoto. A esperança é que, quando tudo passar, essa infraestrutura tecnológica ajude na recuperação”, disse a gerente de expansão da Chocolateria Brasileira, Cintia Pitta.

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