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‘Se não estivesse no rodeio, o touro já teria virado bife’, diz peão mais famoso de Barretos

Precursor da modalidade que hoje é ponto alto da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, cuja 64 ªedição começa nesta quinta (15), o juiz de rodeio e ex-peão Tião Procópio, 60, foi o primeiro brasileiro a montar e a vencer rodeios nos EUA


Por Folhapress Publicado 14/08/2019
Divulgação

Em 1979, um jovem passou a viajar pelas principais festas de peão do país divulgando uma invenção dos norte-americanos: em vez da tradicional montaria em cavalos, típica do Brasil, a proposta era que os peões montassem touros.
Precursor da modalidade que hoje é ponto alto da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, cuja 64 ªedição começa nesta quinta (15), o juiz de rodeio e ex-peão Tião Procópio, 60, foi o primeiro brasileiro a montar e a vencer rodeios nos EUA.
O sujeito que inspirou o personagem Tião Higino (Murilo Benício), na novela “América”, da Globo, afirma que as críticas recebidas pelas montarias só ocorrem porque elas aparecem mais que outras atividades que envolvem animais.

“Não só touro, com cavalo também [há críticas]. Mas há o usado em hipismo, três tambores, para corrida, polo, o da cavalaria e o do rodeio. Cada cavalo faz seu esporte. Por qual motivo o do rodeio é considerado maus-tratos e os outros não? Porque aparece mais”, disse.
Procópio afirmou ficar “muito triste” com as críticas recebidas pelos rodeios e as credita à falta de informações sobre a prática.
“Minha vida inteira vivi em fazenda, com os animais, amo animais, fazem parte da vida. Quem está no meio sabe que o touro só pula se tiver aptidão, por índole. Se não estivesse no rodeio, o touro já teria virado bife, o cavalo já teria sido exportado. Animais de rodeio nasceram para isso, foram criados para isso. Caso contrário, eles nem existiriam, com dois anos teriam sido mortos nos frigoríficos.”
Quando criança, Procópio viu o pai fundar o rodeio em Paulo de Faria (a 537 km de São Paulo), cidade de intensa atividade pecuária no passado e que revelou seis campeões de Barretos, e ouviu histórias de seu avô, que tocava boiada no estradão –viajava com os animais centenas de quilômetros entre as fazendas e os frigoríficos.

Já havia peões que montavam em touros, mas por diversão, sem regras estabelecidas. Utilizavam, por exemplo, as duas mãos para tentarem se manter sobre o animal, enquanto as montarias hoje só são válidas se o peão usar apenas uma das mãos.
Vários peões estiveram envolvidos no processo de surgimento da modalidade no país, mas Procópio foi quem se aventurou a viajar pelo país para divulgá-la, após duas temporadas nos EUA, na virada da década de 80.
Aos 19, no país que criou as montarias em touros, o peão fez cursos e aprendeu como funcionava esse tipo de prova. Montou em três touros e não foi derrubado por nenhum. Ficou mais um ano, competiu e venceu. Voltou ao Brasil e conquistou o título em Barretos.
Os anos seguinte foram de vida intinerante para apresentar ao público o que era “essa tal de montarias em touros”. “Aqui só se montava em cavalos, as pessoas não conheciam. Então, para que crescesse, preparei cinco touros e os levava para as festas de peão para fazer apresentações entre as montarias. Foi assim que começou.”

As premiações das modalidades nos primeiros anos indicam o ceticismo com a montaria em touros. Enquanto o campeão em cavalos ganhava prêmios como um carro zero, o campeão em touros levava para casa TVs de 14 polegadas.
“Não dava para ter noção, impossível imaginar no que se transformariam as montarias em touros. É esporte, é uma profissão. A gente começou em fazenda, como brincadeira, por amor.”

Segundo Procópio, os tropeiros –nome dado aos empresários que têm boiadas para os rodeios– iniciam a seleção dos animais a partir do olhar do bicho, num processo que leva mais de 30 dias até que seja feito um teste em montaria.
Com o touro pré-selecionado, começa o trabalho de adaptação à arena. “O animal passa perto da arena, mas não entra. Depois entra, sem ser montado, sem fazer nada. No ato seguinte, é passada a corda nele e demora mais alguns dias nesse processo. Só aí o peão o monta. E pode ser que o animal não saia do lugar. É índole, pura índole.”
Procópio quer dizer com essa afirmação que, se o sedém (cinta de lã que passa na virilha dos touros) fosse responsável pelo pulo, bastaria colocá-lo em qualquer boi que ele pularia.

Então, se é índole, precisa do sedém? A argumentação dos defensores dos rodeios é a de que a corda de lã passada na virilha não provoca dor, mas um incômodo, e que o touro pula mais apenas para tentar se desvencilhar dela.
Não é o entendimento das associações de proteção animal, que afirmam que o sedém equivale a torturar os bois e que a exposição excessiva à luz, ao barulho e à movimentação do público, que não fazem parte do dia a dia do campo, os deixam estressados.
“É possível criticar qualquer coisa, a partir do conhecimento que a pessoa tenha. No rodeio profissional jamais acontece isso. Nos maiores, melhores, impossível. Se eu ver alguém esbarrar num touro, brigo com o cara.”
A Cnar (Confederação Nacional de Rodeio) tem regras para as boas práticas com os animais, que incluem o transporte em caminhões com piso emborrachado, para reduzir o impacto, local de repouso com água e sombra, e a determinação de que os touros cheguem ao local próximo do horário das provas e que saiam imediatamente após o término.

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