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Velha guarda do PSDB enfrenta Doria e pede veto a Alexandre Frota

As chances de o pedido prosperar são baixas


Por Estadão Conteúdo Publicado 19/08/2019
Divulgação

No primeiro movimento aberto de enfrentamento com o governador de São Paulo, João Doria, dois integrantes da velha guarda do PSDB paulista protocolaram nesta segunda (19) um pedido de impugnação da filiação do deputado federal Alexandre Frota (ex-PSL) ao partido.
O pedido foi enviado a Marco Vinholi, presidente estadual da sigla, que na sexta passada (16) esteve com Doria no evento de filiação de Frota no diretório paulista do PSDB.

Para os autores do pedido, o ex-presidente estadual tucano Pedro Tobias e o ex-presidente nacional do partido José Aníbal, “o postulante possui vasto histórico de hostilidades ao PSDB e suas mais emblemáticas lideranças”.
Vídeo que circulou no tucanato no dia da filiação de Frota mostra o então pré-candidato a deputado, ainda no PSL de Jair Bolsonaro, ofendendo pessoalmente o ex-governador Geraldo Alckmin, padrinho político de Doria na disputa municipal de 2016 e hoje seu desafeto.

O artigo 7º do Estatuto do PSDB afirma que impugnações podem ser pedidas, entre outros motivos, se houver “notória e ostensiva hostilidade à legenda e atitudes desrespeitosas a dirigentes e lideranças partidárias”.
No vídeo, além de elencar escândalos de corrupção associados ao nome de Alckmin, que havia acabado de fechar o acordo com o chamado centrão para montar sua coalizão fracassada na eleição presidencial vencida por Bolsonaro, Frota diz que o tucano “arriou suas calças e está de quatro dando seu bumbum murcho para quem quiser comer” e usa inúmeros palavrões. Para Tobias e Aníbal, a terminologia é do “antigo ramo profissional do impugnado” -no caso, filmes pornográficos.

As chances de o pedido prosperar são baixas. Vinholi é secretário de Doria e um de seus protegidos na administração. Mesmo que o caso suba para a Executiva Nacional, onde a situação do governador tucano não é tão confortável, o presidente nacional Bruno Araújo já disse a amigos que as críticas de Frota eram coisa do passado.
Frota, quando inquirido sobre o vídeo na sexta, disse que havia mudado de ideia acerca do PSDB. Doria, por sua vez, o cobriu de elogios. “No novo PSDB, tem espaço para quem toma decisões, tem espaço para quem tem coragem de falar. Não precisamos estabelecer nenhum tipo de antagonismo.”

O deputado havia sido expulso do PSL por suas críticas ao governo de Bolsonaro três dias antes. Para Doria, sua filiação é um prêmio, dado que Frota tem causado uma não esperada boa impressão entre os integrantes da equipe econômica por seu desempenho no Congresso, como nos debates da reforma da Previdência. Antes, o ex-ator pornô era um dos mais vocais defensores do bolsonarismo radical.
O governador paulista tem se descolado paulatinamente de Bolsonaro, de quem emprestou o nome na campanha do segundo turno de 2018 para surfar num movimento “BolsoDoria”.
Essa aliança inicial, que nunca teve contrapartida explícita do presidente, visava atrair uma faixa semelhante do eleitorado -não só o bolsonarismo antiestablishment a que hoje o mandatário está confinado, mas uma larga fatia da centro-direita que tinha o antipetismo como força motriz.

Hoje, Doria tenta fidelizar esse último grupo ao buscar diferenciar-se do titular do Planalto, como no episódio em que Bolsonaro questionou a morte do pai do presidente da OAB na ditadura militar. A filiação de Frota se insere nesse contexto e também no da correlação de forças em São Paulo.
Frota é próximo de Joice Hasselmann (PSL-SP), deputada que é chamada por desafetos de “líder do governo Doria em Brasília” –ela é líder do governo Bolsonaro no Congresso.

Aliados do governador veem na proximidade dele com Joice a enorme possibilidade de um apoio branco caso ela resolva disputar a eleição para a prefeitura paulistana no ano que vem, já que esses mesmos atores são céticos sobre as chances de o titular da cadeira, Bruno Covas (PSDB), vencer.
Covas era o vice de Doria, e ambos mantêm uma relação fria. Ele estava no evento de filiação de Frota, que por sua vez disse que deixaria de apoiar Joice e apoiaria o tucano agora que estava filiado ao PSDB.
Poucos acreditaram. A disputa em São Paulo é crítica: se algum adversário de Doria vencer a disputa, trará dificuldades na montagem de palanque de 2022, quando o governador ou enfrentará Bolsonaro ou, hipótese menor, será candidato à reeleição.
O gesto da velha guarda tucana é o primeiro, mas não deve ser o último. O grupo havia composto com Doria após a vitória do tucano no segundo turno contra Márcio França (PSB), e cessaram as trocas públicas de farpas –as mais notórias entre o governador e o seu antecessor Alberto Goldman.

Mas o vídeo com as críticas de Frota foi considerado excessivo pelo grupo, até pelo tom de ofensa pessoal a Alckmin.
O ex-governador não quer falar sobre o assunto, mas interlocutores dele disseram que ele ficou especialmente agastado com a situação, dando a entender que não se oporia a medidas retaliatórias.
Há entre alguns integrantes do tucanato a preocupação de que o grupo acabe por sair do partido, desfigurando de vez a sigla formada em 1988 como uma dissidência “ética” do antigo PMDB.

Aliados de Doria dão de ombros, lembrando a falta de votos da ala nos últimos anos, e afirmam que hoje é mais fácil o governador herdar todo o partido do que ser obrigado a procurar outra legenda para manter seus planos eleitorais.
Hoje, o tucano tem ascendência sobre Araújo, que esteve na filiação de Frota, e comanda o time de governadores do partido, composto também por Eduardo Leite (RS) e Reinaldo Azambuja (MS).

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