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PSL suspende 5 deputados bolsonaristas e amplia poder de ala pró-Bivar

E a polêmica segue no partido do presidente da República


Por Folhapress Publicado 18/10/2019
Divulgação

Em mais um capítulo da guerra aberta no PSL, a ala ligada ao deputado Luciano Bivar (PE) aumentou nesta sexta-feira (18) sua representação no diretório nacional da legenda, anunciou a suspensão de cinco deputados bolsonaristas e confirmou trocas nos diretórios comandados pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

Em convenção em Brasília, foram eleitos 52 novos integrantes para o diretório nacional, que passou a ter 153 membros. O deputado federal Bivar é o presidente nacional do partido e está em rota de colisão com Bolsonaro.
De acordo com parlamentares que acompanharam o encontro, a maioria dos novos integrantes -que têm direito a voto na eleição em novembro para a presidência do PSL- é alinhada a Bivar.

O grupo bivarista anunciou ainda que cinco deputados que nesta semana assinaram a lista para tentar destituir o deputado Delegado Waldir (GO) da liderança do PSL na Câmara serão suspensos das atividades partidárias. São eles: Carlos Jordy (RJ), Alê Silva (MG), Bibo Nunes (RS), Carla Zambelli (SP) e Filipe Barros (PR).
Eles não poderão, segundo Waldir, representar o PSL em nenhuma das atividades da Casa, incluindo a votação para líder da bancada.

Com isso, o grupo ligado ao presidente da legenda espera neutralizar o movimento de substituição do delegado no cargo.
Na quinta, os aliados de Bolsonaro anunciaram que voltariam a recolher assinaturas para tentar efetivar o filho do presidente como líder. Sem os cinco parlamentares suspensos, porém, o número de apoios em comparação com a primeira lista cai para 22 -são necessários 27 para a troca, de um total de 53 deputados da bancada do PSL.

Por último, nesta sexta-feira, o grupo bivarista confirmou que haverá trocas no comando do PSL nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, presididos respectivamente pelo senador Flávio Bolsonaro e pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente da República.
“Nós tivemos agora a convenção do partido, a adequação do estatuto e complemento de quadros [no diretório] que eram mais do que necessários”, afirmou o senador Major Olimpio, líder do PSL no Senado.

De acordo com o senador, na próxima terça-feira (22) parlamentares do PSL nos dois estados apresentarão a Bivar listas com as novas composições nas executivas estaduais, para que o presidente nacional do partido faça as trocas.
Antes do início da reunião do diretório, Olimpio já havia afirmado que as modificações seriam realizadas.

“Há uma exigência dos parlamentares nos estados da total impossibilidade de se prosseguir. Um dos grandes problemas que gerou conflito do presidente com o partido foi o Eduardo Bolsonaro. Onde há insatisfação dos parlamentares do Rio, dizendo nós não queremos mais? Flávio Bolsonaro”.

Interlocutores disseram à Folha de S.Paulo que, em São Paulo, o diretório do PSL será dividido entre os deputados Coronel Tadeu, Joice Hasselmann, Junior Bozzella e Abou Anni. Já a composição no Rio deve ser feita entre os deputados Felício Laterça, Professor Joziel, Lourival Gomes e Gurgel.

Apesar de não ter sido suspenso, o deputado Daniel Silveira (RJ) pode sofrer outras sanções do partido. Waldir afirmou que o PSL representará contra ele no Conselho de Ética da Casa por quebra de decoro parlamentar e entrará na Justiça contra o parlamentar.
Silveira foi o deputado que gravou os colegas da ala pró-Bivar em reunião na Câmara nesta quarta. No áudio, o líder da bancada chama Bolsonaro de vagabundo e diz que vai implodir o presidente.

“A alegria dele não sei se vai durar muito”, disse Waldir a jornalistas nesta sexta depois de reunião da Executiva do partido. “Vai ser solicitada apuração criminal e teremos sem dúvida a representação no Conselho de Ética. Com certeza os 513 parlamentares vão poder se posicionar se foi uma esperteza ou uma quebra de decoro parlamentar”, disse o líder.
Um dos suspensos, o deputado do Rio de Janeiro Carlos Jordy afirma que a medida mostra o caráter autoritário do atual comando do partido.

“Isso foi mais uma demonstração de que nós temos que trocar o líder do partido, o comando do partido. Uma decisão arbitrária de uma pessoa autoritária que não quer ver seus desmandos sendo questionados”, afirmou à Folha de S.Paulo por telefone.
Ele não participou da reunião na sede do partido em Brasília nesta sexta. Dos cinco suspensos, apenas a deputada Carla Zambelli esteve presente. Ela criticou ainda o anúncio de que haverá troca nos diretórios em São Paulo e no Rio. “Eu sou da base de São Paulo e não pedi a destituição do Eduardo”, disse.

“Eu acho que a gente tem que pacificar essa semana, é a prioridade, a liderança do partido na Câmara. Porque isso afeta nossa atuação em comissões, várias pessoas foram expulsas, então nossa preocupação maior é em relação a isso”, disse a deputada.

Ela disse que vários deputados que assinaram a lista de Waldir para a permanência procuraram o grupo bolsonarista para pedir a troca, e disse que há ainda a possibilidade de um terceiro nome ser proposto para o cargo.
Delegado Waldir disse ainda ao final da reunião que o partido questionará na Justiça se deputados bolsonaristas decidirem sair do partido. “Não tem acordo. O partido que possibilitou eles se elegerem. Se agora querem cuspir no prato do partido, que pulem do 17º andar”, declarou.

O esquema de candidaturas laranjas do PSL, caso revelado pela Folha de S.Paulo em uma série de publicações desde o início do ano, deu início a atual crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo de Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido.

O escândalo dos laranjas já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.
Na semana passada, diante disso, Bolsonaro requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda. A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio, no entanto, criou uma disputa interna na sigla, com a ameaça inclusive de expulsões.
A aliados Bolsonaro tem dito que só oficializará a saída do PSL caso consiga viabilizar a migração segura de cerca de 20 deputados do PSL (de uma bancada de 53) para outra sigla.

Nos bastidores, esses parlamentares já aceitam abrir mão do fundo partidário do PSL em troca de uma desfiliação sem a perda do mandato. A previsão é de que o PSL receba R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.
A lei permite, em algumas situações, que o parlamentar mude de partido sem risco de perder o mandato -entre elas mudança substancial e desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação política pessoal.

OS DOIS LADOS NO RACHA NO PSL
BOLSONARISTAS
Eduardo Bolsonaro (SP), deputado federal
Major Vitor Hugo (GO), líder do governo na Câmara
Helio Negão (RJ), deputado federal
Carlos Jordy (RJ), deputado federal
Bia Kicis (DF), deputada federal
Carla Zambelli (SP), deputada federal
Filipe Barros (PR), deputado federal
Bibo Nunes (RS), deputado federal
Alê Silva (MG), deputada federal (retirada da Comissão de Finanças e Tributação)
Daniel Silveira (RJ), deputado federal
Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), deputado federal
Flávio Bolsonaro (RJ), senador (Senado)

BIVARISTAS
Delegado Waldir (GO), líder do partido na Câmara
Joice Hasselmann (SP), deputada federal e ex-líder do governo no Congresso
Junior Bozzella (SP), deputado federal
Felipe Francischini (PR), deputado federal (presidente da CCJ)
Sargento Gurgel (RJ) deputado federal (cotado para substituir Flávio Bolsonaro no diretório estadual do Rio de Janeiro)
Nelson Barbudo (MT), deputado federal
Professora Dayane Pimentel (BA), deputada federal
Delegado Antônio Furtado (RJ), deputado federal
Delegado Pablo (AM), deputado federal
Heitor Freire (CE), deputado federal
Major Olimpio (SP), senador
RAIO-X DO PSL
271.195 filiados (em ago.19)
3 governadores (SC, RO e RR), de um total de 27 estados
53 deputados federais, de 513; 2ª maior bancada, atrás da do PT (54)
3 senadores, de 81; a maior bancada, do MDB, tem 13
R$ 110 mi – repasses do fundo partidário em 2019 (estimativa)

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