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Obras de restauro no Museu Nacional, no Rio, começam em abril

Na primeira etapa será feita a recuperação dos ornatos, nas salas nobres do prédio histórico, antiga residência da família imperial


Por Folhapress Publicado 27/01/2020
Foto: Agência Brasil

As obras de restauração e reabilitação do conjunto paisagístico do Paço de São Cristóvão, onde, antes do incêndio em setembro de 2018, estava instalada a sede do Museu Nacional, vão começar em abril. As informações são da Agência Brasil.

Na primeira etapa será feita a recuperação dos ornatos, nas salas nobres do prédio histórico, antiga residência da família imperial. Ainda nessa etapa, serão restauradas as estátuas das musas, que ficam no alto do prédio.

Historiadora do Museu Nacional, Regina Dantas disse à reportagem que algumas delas já eram vistas desde a época de dom João VI, que pretendia imitar a construção do Palácio da Ajuda, em Portugal, com musas nos torreões. Depois, o Paço recebeu mais algumas com dom Pedro I. Entretanto, foi com dom Pedro II, ao espalhar mais musas de ponta a ponta no alto do Paço, que a construção ficou com a configuração de hoje.

“Elas têm uma representação de inspirar a criação artística e científica. Esse é o papel delas, por isso estão ali. Há deusas da história, da música, da comédia, da dança, da astronomia”, afirmou a historiadora.

Além disso, será feita a proteção dos elementos do Jardim das Princesas, como fontes de gnaisse e guirlandas em alto-relevo, bancos e tronos, mosaicos de conchas e fragmentos de louças. Era naquele lugar, ao lado do Paço, que crianças da corte imperial costumavam brincar e até estudar.

O valor histórico do espaço é contado também pelas visitas de importantes pesquisadores, como Einstein, que chegou a plantar uma muda de pau-brasil no local. “Era um espaço privativo da família. Esse jardinzinho era da família, porque o jardim mesmo da família era a Quinta da Boa Vista inteira, que ia além do [estádio] Maracanã atual. Era muito grande”, destacou.

“As louças imperiais eram quebradas, e as crianças quebravam mais ainda e colavam, usando a técnica italiana de mosaico para decorar sofá, poltroninhas todas enfeitadas com caquinhos de louças do Império. Dom Pedro II brincava lá quando pequeno e tinha um espaço como um caramanchão, onde estudava e as irmãs brincavam. Depois, quando ele cresceu, fez um troninho. Isso está preservado porque está afastado do Paço. O que está gasto é pela questão do tempo e sem uma restauração devida”, acrescentou.

A recuperação do prédio do Paço de São Cristóvão será a etapa seguinte. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, disse que houve atraso no projeto, mas estimou que as obras comecem até o fim do primeiro semestre. “Se a gente conseguir o dinheiro. Se houver verba. [Essa é] Uma coisa que a gente está preocupado”, afirmou Kellner.

Outra frente de obras do museu é para a construção de seis pavilhões, onde vão funcionar laboratórios, em um terreno de 44 mil m², vizinho à Quinta da Boa Vista, que abriga o museu. O terreno foi cedido pelo governo federal à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que conseguiu, com o apoio da bancada do estado no Congresso, a aprovação de uma emenda de R$ 55 milhões para garantir recursos necessários à infraestrutura da área, obras que já começaram.

A previsão é de que, nos próximos meses, a administração do museu possa se mudar para as novas instalações. “Os laboratórios ainda não estarão concluídos, mas estamos atuando para que haja o processo licitatório e tudo aconteça. Tem um rito que é demorado, dentro desse contexto a gente espera, ainda este ano, estar lá.”

No local vão funcionar todos os laboratórios do museu e os espaços destinados às novas coleções de acervo. “São seis pavilhões, com mais de 20 laboratórios. O material de resgate que está sendo trabalhado em um anexo ao prédio do museu vai ser levado para lá. O Museu Nacional tem três pontos: o ensino, a pesquisa e a extensão vinculada a ele. Vamos poder voltar a fazer pesquisa de forma condizente assim que tivermos esses laboratórios”, disse Kellner.

“A gente vai voltar à normalidade institucional, onde vamos ter tranquilidade para fazermos as nossas pesquisas, que são imprescindíveis ao país. Lembre-se que, entre outras coisas, a gente atua em diversidade, em questões de extinção, etnográficas, vários assuntos que hoje a gente está fazendo de forma precária.”

Kellnner disse ainda que a instituição recebeu várias promessas de doações para compor o acervo, mas que ainda não foram entregues porque não tem lugar para guardar. “Assim que [o museu] tiver condição, vamos receber. São peças da cultura africana, biológicas, de paleontologia e etnográficas de instituições do Brasil”.

Para Murilo Bastos, bioarqueólogo do Museu Nacional, após o incêndio, a construção desses laboratórios vai ser fundamental para a continuidade do trabalho de pesquisas da instituição. “Com a reconfiguração do museu e pesando que teve o incêndio, ele vai ser fundamental para toda a pesquisa e a parte de salas de aula,, porque o museu também é aula, educação e pesquisa. Esse outro prédio vai ser fundamental para que a gente possa, de fato, trabalhar em uma parte que não é tão conhecida pelo público”, afirmou Bastos.

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