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Há 20 anos, Galeano virava herói do Palmeiras ao fazer gol em rival

O gol decisivo de uma das partidas mais memoráveis da história do Palmeiras nasceu de jogada em que tudo deu errado


Por Folhapress Publicado 06/06/2020
Foto: Reprodução/Instagram

Alex deveria cobrar a falta pelo alto e em direção à primeira trave. A batida saiu fraca, baixa e pelo meio da área. Os jogadores do Palmeiras deveriam acompanhar a jogada ensaiada e quase todos fizeram isso. O lance foi tão equivocado que o zagueiro Adilson, do Corinthians, fez proteção para que a bola fosse pela linha de fundo.

Foi o instante em que Marcos Aurélio Galeano mudou seu status diante da torcida palmeirense. Ele fugiu do script, acompanhou a trajetória da cobrança e completou para o gol. Foi o que definiu a vitória de virada do Palmeiras sobre o Corinthians por 3 a 2 na segunda partida da semifinal da Libertadores de 2000.
A finalização levou o confronto para os pênaltis. Marcos defendeu o chute de Marcelinho Carioca e levou a equipe de Palestra Itália para a decisão.

O jogo, que completa 20 anos neste sábado (6), fez com que Galeano, antes visto como um volante esforçado e às vezes criticado pelos torcedores, se transformasse em ídolo. Todas as vezes em que vai a jogos no Allianz Parque recebe centenas de pedidos de autógrafos e fotos. Em grande parte por causa daquele gol sobre Dida no Morumbi.

“Eu sei que esse gol mudou minha imagem. A valorização de um jogador defensivo nunca é a mesma de um jogador ofensivo. Foi uma recompensa por estar no lugar certo e na hora certa. Um Marcos fez o gol que levou o jogo para os pênaltis e outro fez a defesa que deu a classificação. Foi a minha consagração e isso me deixa muito orgulhoso”, relembra Galeano, hoje com 48 anos.

Os dois Marcos ofereceram um êxtase para a torcida palmeirense no momento em que a rivalidade com os corintianos dentro de campo estava no auge, com uma série de confrontos, polêmicas e confusões. Inimizades que Galeano, como um dos homens de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, viu por dentro. De acordo com o treinador, o atleta era o volante “que tinha de vigiar a casinha”, se referindo à área na defesa. Quando passava do meio-campo e ia ao ataque, Galeano escutava, do banco de reservas, a bronca do chefe.

“A gente incorporou o estilo combativo do Felipão e a rivalidade contra o Corinthians, naquele momento, estava muito alta. Existia muita provocação. Eles tinha, Edílson, Vampeta, Marcelinho [Carioca]… O Marcelinho era complicado. Ele não falava muito em campo, mas só olhar dele já provocava. Você tinha de se controlar para não fazer besteira”, lembra o cabeça de área. No cenário geral, era o momento em que Palmeiras e Corinthians brigavam pelo domínio do futebol brasileiro e sul-americano. E parecia que o Corinthians levaria a melhor. Campeão brasileiro de 1998 e 1999, do Paulista de 1999 e Mundial de 2000, o time estava atrás do título que faltava e chegaria apenas em 2012: a Libertadores.

O Palmeiras era o então atual campeão continental. Havia vencido no ano anterior eliminando o Corinthians nas quartas de final, também nos pênaltis. Seis dias após o título continental de 1999, os rivais se enfrentaram pela final do Estadual. Com a vitória assegurada, Edílson fez embaixadinhas na lateral de campo, iniciou uma batalha campal e a partida teve de ser abandonada.

Na primeira semifinal de 2000, o Corinthians havia vencido o primeiro jogo por 4 a 3. Até o gol de Galeano, estava avançando à final com o empate. “Eu revejo esse jogo e às vezes nem acredito. Para nós, foi muito difícil. Eles ganharam a primeira partida e atuaram muito bem. Tinham jogadores mais experientes. O Palmeiras teve uma semana conturbada, com muita cobrança de torcida, comissão técnica.

Todo esse combustível fez com que a gente conseguisse a virada” afirma Galeano.

Foi o momento também em que também a tática de Felipão, de fazer os jogadores acreditarem que todos estavam contra, atingiu o ápice. Dias antes de enfrentar o Corinthians, o Palmeiras perdeu a semifinal do Paulista para o Santos. Vencia por 2 a 0 já no segundo tempo e se classificava mesmo com a igualidade no placar.

Um áudio gravado pela equipe de reportagem da Rede Globo flagrou bronca de Scolari nos jogadores, em que ele chama Edílson de “covarde” e “cafajeste”.
“Eu tenho um time rodado, experiente, mas que na hora do bem bom não sabe dar um pontapé”, gritou. “A gente sabia como o Felipão tratava o dia a dia e a confiança que tinha na equipe. Quando aquilo [o áudio] vazou, conturbou o ambiente e foi um prato cheio para a imprensa. Sempre tinha um jogador que falava uma coisa ou outra que saía do normal. O Marcão [Marcos, goleiro] era o rei disso”, completa Galeano, para cair em seguida na risada.

Apesar das adversidades, a lembrança do volante é que, enquanto comemorava o gol que levaria à decisão por pênaltis, ele ouviu os colegas que o abraçaram dizer que o Palmeiras se classificaria. “Essa era a confiança que a gente tinha.”

Depois de derrotas, brigas, controvérsias e o silêncio diante dos jornalistas, deu certo. Graças à intuição de Galeano. “Nesse lance do gol não aconteceu nada ensaiado. Mas no final saiu o gol”, completa ele, sobre a noite que mudou sua vida e que deu ao palmeirense, há 20 anos, uma de suas maiores alegrias.

A equipe brasileira avançou à decisão, mas acabou derrotada pelo Boca Juniors nos pênaltis no mesmo Morumbi que viu o triunfo diante do Corinthians.

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