Usamos cookies e outras tecnologias para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Na Suíça, revezamento 4x100m do Brasil recebe bronze herdado de Pequim-2008

Equipe brasileira era formada por Bruno Lins, José Carlos Moreira, Sandro Viana e Vicente Lenílson


Por Estadão Conteúdo Publicado 01/11/2019
Christophe Moratal/COI

Onze anos depois de terem participado da final da prova dos 4x100m dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, onde terminaram em quarto lugar dentro da pista, a equipe do revezamento do Brasil formada por Bruno Lins, José Carlos Moreira, Sandro Viana e Vicente Lenílson recebeu na quinta-feira (31), em Lausanne, na Suíça, a medalha de bronze que herdou devido ao caso de doping envolvendo um dos atletas da Jamaica, cujo time, liderado por Usain Bolt, terminou em primeiro lugar naquela disputa.

O caso de doping foi revelado apenas em 25 de janeiro de 2017, quando a reanálise das amostras dos exames antidoping realizados pelos atletas na Olimpíada de 2008 apontou que Nesta Carter testou positivo para metilhexanamina, um estimulante proibido. Naquela final na China, o velocista abriu o revezamento para a equipe jamaicana, que venceu a prova com o tempo de 37s10, então o recorde mundial dos 4x100m. O resultado, porém, foi desqualificado e custou a Bolt a perda de uma de suas nove medalhas de ouro olímpicas.

E o terceiro lugar daquela prova foi confirmado para a equipe brasileira pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) apenas no ano passado. Com a comprovação do doping de Carter, a equipe jamaicana teve de devolver a medalha de ouro que ganhou, enquanto a equipe de Trinidad & Tobago, que havia sido a segunda colocada, herdou o primeiro lugar. O Japão passou da terceira para a segunda posição e o quarteto do Brasil, que fechou a prova com o tempo 38s24, ficou com o bronze após terminar em quarto lugar.

Depois desta longa espera, a equipe brasileira do revezamento 4x100m finalmente pôde receber esta medalha de bronze, em uma cerimônia realizada no Museu Olímpico, em Lausanne, onde o Comitê Olímpico do Brasil (COB) foi representado pelo ex-judoca Rogério Sampaio, atual diretor-geral da entidade e medalhista de ouro na Olimpíada de Barcelona 1992.

“Foi uma cerimônia muito bonita e emocionante. Ser atleta olímpico já é algo que glorifica a história deles no esporte, mas ser medalhista muda o patamar. Mesmo que tardiamente essa premiação representa esse reconhecimento. Para mim, que conquistei o ouro em 92, poder participar de um momento histórico do esporte olímpico brasileiro, ver uma medalha ser entregue para os nossos atletas no Museu Olímpico, em Lausanne, foi inesquecível”, afirmou Rogério Sampaio.

O quarteto brasileiro teve as suas medalhas entregues por Bernard Rajzman, membro do COI e um dos ícones da seleção brasileira de vôlei que conquistou a prata olímpica nos Jogos de Los Angeles 1984. “Pessoalmente, como brasileiro e medalhista olímpico, estou profundamente feliz e emocionado. Representar o país no maior evento esportivo do mundo é magnífico e alcançar uma medalha olímpica é simplesmente de tirar o fôlego. Dou minhas boas-vindas ao seleto grupo de medalhistas olímpicos. E parabéns por fazer parte da história olímpica”, destacou Bernard.

EMOÇÃO E RECOMPENSA

Os membros do revezamento 4x100m do Brasil em Pequim 2008 se emocionaram na cerimônia , na qual foram muito aplaudidos pelas cerca de 100 pessoas presentes ao Museu Olímpico para acompanhar a entrega das medalhas de bronze.

“A ficha não tinha caído ainda. Depois que colocaram a medalha, eu a olhei, passou um filme na minha cabeça e as lágrimas vieram Foi um choro de felicidade, de ser reconhecido como um medalhista olímpico. Pequim-2008 foi minha primeira participação em Jogos, foi especial e único. Gostaria de agradecer a todos os brasileiros que sempre torceram por nós. É um momento mágico na nossa vida. Agora somos, realmente, medalhistas olímpicos, finalmente com nossa medalha em mãos”, comemorou o alagoano Bruno Lins.

O maranhense José Carlos Moreira, conhecido como Codó, nome da cidade onde nasceu, também exaltou o sentimento que teve quando foi chamado para colocar a medalha de bronze no peito neste evento em Lausanne. “É uma sensação maravilhosa, inexplicável, medalha olímpica é diferente de tudo. Fiquei congelado ali em cima na hora de receber a medalha. Agradeço muito ao Comitê Olímpico do Brasil, à Confederação Brasileira de Atletismo que também fazem parte disso. Essa medalha não é só minha, é do Brasil, da minha família, dos meus treinadores, de todos que estiveram comigo até esse momento. Simplesmente desejo a todos os atletas que se dediquem, que treinem, que deem o seu melhor para chegar a um momento como esse, épico e único”, ressaltou.

Sandro Viana, atleta mais velho desta equipe do revezamento Brasil em Pequim-2008 e que hoje está com 42 anos, enfatizou que o recebimento deste bronze foi a maior recompensa que teve pela sua dedicação ao atletismo durante duas décadas.

“Tudo que eu fiz foi me dedicar ao esporte nos últimos 20 anos. Quando saí de Manaus, vendi tudo para me tornar um atleta. Só pensava em fazer o meu melhor todos dias até chegar aos Jogos Olímpicos. Quando tive contato com o universo olímpico, minha vida mudou. De lá pra cá, a única coisa que eu fiz foi cultivar o esporte olímpico da melhor maneira possível, através do meu exemplo de vida. Já era um atleta muito satisfeito, muito realizado com o quarto lugar. E quando veio essa notícia, tudo mudou na minha vida. Veio uma explosão de emoções onde passado, presente e futuro acabaram se misturando”, revelou o ex-velocista.

Já Vicente Lenílson, único daquele time do Brasil que já havia conquistado uma medalha olímpica anteriormente – a prata também no revezamento 4x100m nos Jogos de Sydney 2000, lembrou do esforço que precisou fazer para estar presente na Olimpíada de 2008 como um dos representantes do País nesta mesma prova, oito anos depois.

“Me passou um filme de tudo que tive que fazer de treino, de renúncia, de dedicação, de ausência da família para estar nos Jogos de Pequim. Subir ao pódio olímpico é mágico. Eu estive em 2000, mas hoje não senti diferença dessa sensação. Não é só estar no estádio, é receber o que é seu por direito. Agora, estou num patamar acima. Poucos têm uma medalha olímpica, e menos ainda tem duas. Agora eu cuido de um projeto social, devolvendo um pouco do que o atletismo me deu”, disse Vicente Lenílson, que também participou dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004.

17 PÓDIOS

Com a entrega deste bronze, agora oficialmente concedido ao Brasil, o País passou a contabilizar 17 pódios ao total em Pequim 2008. E, curiosamente, essa também se tornou a 17ª medalha olímpica do atletismo brasileiro na história dos Jogos Olímpicos.

Esta também se tornou o segundo pódio olímpico herdado pelo atletismo do Brasil em Pequim. O outro veio no revezamento 4x100m feminino, com Lucimar Moura, Rosangela Santos, Rosemar Coelho Neto e Thaissa Presti ficando com o bronze após a desclassificação da equipe da Rússia. Essas medalhas foram entregues ao quarteto durante o Prêmio Brasil Olímpico de 2017.

Antes disso, em 2005, o cavaleiro Rodrigo Pessoa recebeu um ouro dos Jogos de Atenas 2004 na prova dos saltos do hipismo após a comprovação de um caso de doping do cavalo do irlandês Cian O’Connor, então vencedor daquela disputa.

✅ Curtiu e quer receber mais notícias no seu celular? Clique aqui e siga o Canal eLimeira Notícias no WhatsApp.