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‘A atual geração é tão boa quanto a do ouro olímpico em 2016’, diz técnico Rogério Micale

Único técnico a ganhar o ouro olímpico pela seleção brasileira elogiou a equipe de André Jardine e criticou a existência no Brasil de um excesso de idolatria ao futebol europeu


Por Estadão Conteúdo Publicado 11/02/2020
Foto: Kin Saito/CBF

O único técnico a ganhar o ouro olímpico pela seleção brasileira garante que a façanha tem boas chances de ser repetida nos Jogos de Tóquio 2020. Em entrevista exclusiva ao Estado, o treinador Rogério Micale relembrou a campanha vitoriosa de 2016, elogiou a equipe de André Jardine e criticou a existência no Brasil de um excesso de idolatria ao futebol europeu.

Após o título, Micale deixou a CBF no começo de 2017 e dirigiu na sequência Atlético-MG, Paraná e Figueirense. Sem trabalhar desde 2018, ele agora analisa propostas e deve retornar ao futebol com atuação nas categorias de base.

A geração tem chance de manter o ouro olímpico?

É uma geração promissora. São bons nomes que nós temos. São do mesmo nível ou até superior do que a geração que ganhou o ouro em 2016. O Brasil chega muito forte.

Mas a campanha irregular não deixa um alerta para Tóquio?

A geração que foi campeã comigo em 2016 também não se classificou no Sul-Americano Sub-20 (em 2013). Foi a primeira equipe da história que foi desclassificada. O Sul-Americano é um dos campeonatos mais difíceis, mas não pela qualidade técnica. É por tudo o que envolve de logística, campos que vão jogar, vários fatores. O Brasil tem condições de trazer o bicampeonato.

Mas os fracassos não prejudicaram alguns que não têm uma segunda chance?

Nossa cultura é extremamente imediatista. O meu caso, por exemplo: eu trabalhei em seis competições pela CBF, cheguei ao pódio em cinco. Fui desclassificado no Sul-Americano Sub-20 de 2017 e toda a comissão técnica foi desligada. O grande acerto da CBF neste Pré-Olímpico foi ter levado uns dois ou três membros daquela época. Querendo ou não, o processo é uma novidade para o Jardine. Por mais que o treinador tenha uma experiência vasta em clube, seleção é algo diferente, requer uma vivência.

Quais critérios precisam ser pensados para escolher os jogadores acima de 23 anos?

Eu levei em conta a experiência, liderança profissional, o caráter, jogadores com leitura de jogo acima da média, para compor o grupo também. Você pode escolher um jogador por atuar em mais de uma posição, um zagueiro que pode ser volante ou lateral ambidestro. O critério passa por isso.

O que tem de mais complicado durante a Olimpíada?

Você só pode levar 18 nomes e não 23. Até para treinar é difícil, tem de improvisar. Eu usava muito os membros da comissão técnica para trabalhar em cima de posicionamento, usava vídeos. É algo muito particular. Para treinar você precisa de no mínimo 22. É o maior desafio a ser vencido.

Por outro lado, por que países como Ucrânia e Equador têm sido destaque no futebol de base?

Eu acrescento à lista a Venezuela. Em 2017 eles foram vice-campeões mundiais sub-20 e no Sul-Americano nós ganhamos deles por 1 a 0. Recebi críticas por ter sido uma vitória apertada. Quem falou, nem acompanhava direito. Esse olhar às vezes “vesgo”, que não está pautado na informação real, gera no mundo de futebol uma falta de visão. No mundo de hoje, a informação está à disposição de forma instantânea. Nós precisamos enxergar esse novo momento.

Ter os jogadores saindo do Brasil cada vez mais cedo ajuda ou atrapalha a formação de uma equipe olímpica?

Se saímos cedo, é porque temos produzido talentos. Alguns entendem que o jogador só vai aprender a parte tática se for para a Europa. E é interessante nessa fase da vida aprender a ser tão tático e perder toda a sua qualidade de improvisação? O futebol tem que causar suspiros, não ser mecanizado e automatizado, como aquele que a Alemanha nos propôs quando foi campeã. Era padronizado como uma fábrica de engarrafar cervejas. Tem a lavagem, o rótulo, a máquina para colocar o líquido, tampinha, tudo definido. Não quero isso para o Brasil. Precisamos ter o padrão tático, mas precisa ter a liberdade, o drible. Falam tanto que nosso futebol está ultrapassado e toda hora europeu vem aqui buscar jogadores.

Depois de sair da CBF você teve trabalhos difíceis. O quanto isso te prejudicou na carreira?

Faltou um pouco de experiência. A gente acha como treinador que a gente consegue resolver tudo e que vai dar um jeito. Tem muitos fatores incontroláveis. Um exemplo: falta de pagamento do elenco. Depois disso a gente fica traumatizado também. Tive propostas da Série B e de alguns clubes na parte de baixo da Série A, mas fiquei com medo de aceitar.

Quais os seus projetos para o momento?

Tenho uma definição de clube em breve para fazer uma reestruturação das categorias de base. Tive uma proposta para trabalhar no Kuwait. Estou pensando muito. Meu último clube foi o Figueirense, o clube estava sem dinheiro. Fui enganado, infelizmente. Eu não recebi um centavo do clube.

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