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Considerado clube-modelo há 11 anos, São Paulo encolhe diante de rivais

Clube do Morumbi acumulou perdas em receitas e não ostenta mais o rótulo de clube-modelo


Por Folhapress Publicado 14/12/2019
Igor Amorim/saopaulofc.net

Onze anos após estabelecer a maior hegemonia de títulos brasileiros na história, com três conquistas seguidas, o São Paulo encolheu. Com menos taças que seus rivais regionais – Corinthians, Santos e Palmeiras – desde o seu auge, na primeira década do século, o clube do Morumbi acumulou perdas em receitas e não ostenta mais o rótulo de clube-modelo.

Após a conquista dos três títulos nacionais seguidos, o São Paulo faturou R$ 64 milhões (valores atualizados) em 2009 com patrocinadores e brigava pela liderança nesse quesito com o Corinthians. Campeão paulista e da Copa do Brasil, o time alvinegro que tinha Ronaldo Fenômeno obteve R$ 66 milhões de receita naquele ano, em valores corrigidos pela inflação.

Corinthians e São Paulo mantinham uma diferença abissal em comparação a Palmeiras (R$ 38 milhões) e Santos (R$ 29 milhões).

O cenário, agora, é diferente. Desde então, o São Paulo teve uma queda de 50% no faturamento com sua camisa. Conseguiu captar R$ 32 milhões em 2018, último balanço divulgado, e está à frente apenas do Santos (R$ 27 milhões). Foi superado pelo Palmeiras, que, com a chegada da Crefisa, saltou para R$ 102 milhões em arrecadação com patrocínio de camisa.

O professor de marketing esportivo da Mackenzie Anderson Gurgel, autor do livro “Futebol S/A: A economia em campo” (Saraiva, 2006), aponta que o São Paulo teve projetos considerados inovadores, como Batismo Tricolor (2006), Passaporte Tricolor (2008) e Embaixada são-paulina, mas pecou no planejamento a longo prazo. “Essa é um constante no futebol brasileiro”, afirma.

De 2009 para 2010, a queda foi vertiginosa. As receitas com patrocínios e publicidade, até então de R$ 64 milhões, despencaram para R$ 36 milhões. Foi a primeira temporada desde 2001 em que o São Paulo não teve a marca da empresa sul-coreana LG em sua camisa.

“O São Paulo teve um encontro muito feliz das conquistas esportivas com a gestão de marketing e criou a expectativa de se tornar a maior torcida do Brasil”, diz Gurgel.

Em 2015, pela primeira vez desde 1987, a camisa tricolor não contou com nenhum patrocinador, segundo pesquisa do Ibope Repucom a pedido da reportagem, que analisou os patrocínios dos clubes mais presentes na Série A do Brasileiro.

O clube só conseguiu alavancar suas receitas totais, de R$ 300 milhões em 2009 para R$ 424 milhões em 2018, graças principalmente ao aumento de arrecadação com a venda de jogadores.

Fora de campo, em outubro de 2015, o presidente Carlos Miguel Aidar, que havia sido eleito em abril de 2014 para suceder Juvenal Juvêncio, renunciou ao cargo em meio a acusações de desvio de dinheiro. O auge da crise ficou marcado por uma briga em que o cartola levou um soco em seu vice, Ataíde Gil Guerreiro.

Procurado, Aidar não quis conceder entrevista. “Meu mandato passou, estou cansado de falar sobre ele”, disse. “O São Paulo vivia uma crise de imagem muito forte, as pautas não eram esportivas e, sim, policiais. O marketing é muito mais que patrocínio, mas a nossa prioridade era (patrocínio) porque não tinha nenhuma marca”, disse o advogado José Francisco Manssur, vice-presidente de comunicação e marketing na gestão de Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, atual presidente do clube e sucessor de Aidar.

Mas a instabilidade não teve fim. No início do mês, um grupo de conselheiros enviou um pedido de impeachment contra Leco. Alegam que o dirigente desrespeitou o estatuto ao celebrar empréstimos bancários sem aprovação prévia do Conselho Deliberativo e ultrapassou o limite de gastos previsto pelo regimento.

Em meio aos problemas de gestão, o time colecionou eliminações para times como Bragantino, pela Copa do Brasil, e Defensa y Justicia, Colón e Talleres, todos da Argentina, em torneios sul-americanos. Uma situação incômoda para um clube que, em 2005, faturou a sua terceira Libertadores, quando goleou o Athletico-PR por 4 a 0, e conquistou o Mundial de Clubes com vitória por 1 a 0 sobre o Liverpool.

Com a crise, o time viu as receitas com bilheteria caírem 16%, enquanto a dos demais clubes paulistas aumentaram seu faturamento com venda de ingressos. O São Paulo fechou 2018 com receita de R$ 30 milhões em bilheteria. Patamar similar ao Santos (R$ 27 milhões), que há dez anos arrecadava R$ 15 milhões, menos da metade do time tricolor à época.

A administração errática do clube também influenciou o campo. Nos 11 anos desde o título nacional de 2008, o São Paulo teve média de mais de dois técnicos por temporada.

A contratação mais emblemática do período foi a de Doriva, anunciado em 7 de outubro de 2015 e dispensado 33 dias depois. Comandou o São Paulo em 7 jogos, com 2 vitórias, 1 empate e 4 derrotas – aproveitamento de 33%.

Nos Campeonatos Brasileiros de 2013 e 2017, o time perambulou pela zona de rebaixamento, porém, conseguiu reagir e encerrou a competição em nono e 13º lugares, respectivamente – essa última foi a pior campanha do time tricolor na era dos pontos corridos. Nem o ídolo Rogério Ceni escapou da lista de técnicos demitidos naquele ano.

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